2 de jun. de 2014

CRER NO AMANHÃ



Ao final de mais uma jornada, o velho monge, numa pequena gruta ao sopé da montanha, acendeu sua fogueira para espantar os animais e aquecer seu corpo na noite fria que se aproximava. Comeu um pedaço de pão velho e uma fruta colhida no bosque.
Na verdade ele estava sonolento, cansado - pior do que isso – começava a duvidar de sua peregrinação mística em busca de um sentido para a vida. Ficou olhando para a fogueira e pensando na longa caminhada do dia seguinte.

As brumas do sono chegaram logo e ele sonhou com uma montanha imensa, rochosa e banhada de sol. Lá em cima existia um ninho e nele, uma majestosa águia preparava-se para levantar voo. Mergulhou no céu, deu duas voltas e partiu, deixando dois ovos no ninho aquecido.

Um sussurro de voz partiu de dentro de um dos ovos: está esfriando! Assim a gente não vai chocar nunca, respondeu o companheiro.

E o diálogo continuou: como será a vida além da casca? Se é mesmo que existe vida depois... Ninguém voltou para contar como é.

Eu gostaria de ter alguma prova de que somos mais do que isso, mais do que dois ovos brancos e sem graça.

Tenha fé, respondeu o companheiro, somos feitos à imagem e semelhança da mãe; um dia sairemos daqui e voaremos pelos espaços azuis e infinitos.

E o diálogo não continuou porque a águia voltara ao ninho e um suave calor os envolveu.

Depois passaram-se longos dias e noites. Por vezes, a mãe desaparecia e as dúvidas voltavam. Eles gostariam saber o que existia mesmo do outro lado da casca, caso existisse o outro lado. É possível que sejamos ovos chocos, sem futuro, argumentava o mais pessimista.




E num dia qualquer, perceberam um barulho estranho. O que será mesmo? Isto me assusta! A casca se havia rompido e uma luz muito forte envolveu as duas pequenas aves. Ali estava a mãe, mais adiante as montanhas, o céu azul, paisagens jamais imaginadas... O velho monge acordou, o sol esquentava sua face e mil pés acima dele estava uma imponente águia real. Esfregou os olhos, sorriu e pegou de seu cajado e continuou a caminhada. Assim é a vida. Andamos na penumbra e, às vezes, nossas certezas desaparecem. A caminhada fica sem sentido e o futuro passa a ser imaginado como ilusão. Nunca ninguém voltou para explicar como é. Nossos horizontes são curtos e nossas expectativas do tamanho do pequeno mundo que nos envolve. A miopia é o nosso modo de ver o amanhã. E isto, se o amanhã existir!

O apóstolo Paulo também se interrogava sobre o futuro e um dia lhe foi revelado como seria o depois e resumiu esta experiência dizendo: “os olhos jamais viram, os ouvidos jamais escutaram, o coração jamais imaginou o que Deus prepara para aqueles  que o amam!” ( 1 Cor 2,9 ) São as surpresas de Deus. Vale a pena continuar caminhando.


Autor: Frei Aldo Colombo
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