22 de jul. de 2011

DESIDERATUM



Siga tranqüilo por entre o clamor e a impaciência e lembre-se de que a paz pode se esconder no silêncio. Esteja bem com todos até onde não seja preciso sacrificar os seus princípios. Diga a sua verdade de um modo sereno e claro e ouça os outros; mesmo os tolos e ignorantes, eles também têm a sua história. Evite as pessoas vulgares e agressivas, pois elas são vexatórias ao espírito. Não se compare aos outros, para não se tornar vaidoso ou amargo, pois sempre haverá melhores e piores que você.

Desfrute de suas realizações tanto quanto de seus planos. Interesse-se por sua profissão por mais humilde que seja; ela é um bem verdadeiro na sorte inconstante da vida. Tenha prudência em seus negócios, pois o mundo está cheio de traições. Mas não deixe que isto o torne cego para o valor; são muitas as pessoas que lutam por um ideal nobre e por toda parte a vida está cheia de heroísmo. Seja autêntico, sobretudo não simule afeição. Mas não deixe de crer no amor, pois face a toda aridez e desilusões ele é tão perene quanto a relva. Aceite graciosamente o conselho dos anos, abrindo mão de bom grado das coisas da juventude.

Fortaleça seu espírito para poder enfrentar os golpes súbitos do destino. Mas não se torture com os produtos de sua imaginação. Muitos pesadelos são frutos do cansaço e da solidão. Tenha uma disciplina sadia, mas não exija demais de si mesmo. Você é apenas uma parte do Universo, como as árvores e as estrelas. Você tem o direito de estar aqui. E, quer lhe pareça claro ou não, o Universo está evoluindo come deve ser.

Portanto, esteja em paz com Deus, qualquer que seja a sua concepção do mesmo. E, quaisquer que sejam as suas vicissitudes ou aspirações, no ruidoso tumulto da vida, esteja em paz com a sua consciência. Apesar de todas as falsidades; de todos os transtornos e de todos os sonhos desfeitos, o Mundo é belo. Portanto, procure ser sempre feliz. (Texto encontrado na Igreja de Saint Paul, em Baltimore (EUA), 1792).

Linda mensagem que recebi hoje por email, e resolvi publicar aqui em nosso espaço. Grande abraço de luz. Paz Profunda!




9 de jul. de 2011

Sala Repleta...Casa Deserta



Gilberto Gil tem uma canção que diz: “Tanta gente!... E estava tudo vazio. Tanta gente!... E o meu cantar tão sozinho.”

"O que teria isso a ver com o cotidiano dos grupos espíritas na atualidade?... Muita coisa!...
Em Casas equivocadamente agigantadas, equipes trabalham por turno e mal se conhecem, pessoas viram números e o velho e essencial acolhimento que começaria “dentro de casa” acaba se perdendo em meio à distribuição de senhas para o passe e outras novidades em nome da organização. A preocupação é atender e impressionar bem aos que chegam, aos que vem de fora. Enquanto isso, no interior dos grupos, quanta gente sofrendo de solidão acompanhada... Minguando afetivamente!

Importante avaliar como tem sido a nossa relação com os companheiros de dentro, no cotidiano institucional espírita. Conseguimos perceber seu olhar mais triste nesse ou naquele dia? Quando desaparecem por algum tempo, o nosso primeiro pensamento é de censura ou preocupação?

Passa pela nossa cabeça que possam estar atravessando uma fase difícil e, em caso afirmativo, nos mobilizamos para ampará-los? Aos que retornam após um período de ausência, a manifestação tem sido de acolhimento e alegria ou de cobrança?

Ah, as tais cobranças... Das piadinhas sarcásticas e olhares enviesados ao dedo em riste, vale tudo para manter o “bom andamento das atividades, em nome de Jesus”... Porém, vale a pena pensar se tem sido oferecido afeto, compreensão e solidariedade na mesma medida em que se cobra.

Favorecidos por regras monásticas que inibem a espontaneidade e a afetividade entre os trabalhadores, os grupos acabam resvalando para o extremismo. “O silencio é uma prece”... Antes, durante e depois das reuniões. Ignora-se que onde não há espaço para diálogo e autenticidade não pode haver uma relação saudável e verdadeira. Assim, vestindo a armadura do formalismo que afasta - em lugar da naturalidade que aproxima - temos nos tornado meros tarefeiros, cada vez mais robotizados e indiferentes. Sem perceber, em vez de estar uns com os outros temos apenas passado uns pelos outros, como se as pessoas fizessem parte dos móveis e utensílios da Casa Espírita.

Muito comum entrar no grupo, assinar a lista de freqüência (uma espécie sutil de folha de ponto para espíritas) e ligar no automático. A preocupação em ser impecável sobrepõe-se então ao importar-se com. É que andamos muito ocupados em ser perfeitos. Mesmo que ser perfeito signifique apegar-se a detalhes ínfimos e apontar a imperfeição alheia para colocar em destaque a pretensa superioridade que ainda estamos longe de possuir...

Quanta ilusão!

Se o companheiro procura ajuda, lá vem o julgamento implacável implícito na “receitinha de bolo”: Prece, água fluidificada, redobrar a vigilância... Com direito, é claro, a sorrisinho paternalista e tapinha nas costas. Dali cada qual pro seu lado e a cômoda sensação de dever cumprido, sem que tenhamos, entretanto, caminhado um milímetro sequer em direção às reais necessidades do outro. Sem contar que, convenhamos, numa quase ditadura da pseudo-santidade como critério de “promoção” a trabalhador espírita, raros são os que têm coragem de expor suas dificuldades, por mais que estejam passando o pão que o diabo amassou. Afinal, reza a lenda que espírita não pode estar sujeito aos problemas existenciais inerentes aos “reles mortais”, como stress, depressão, frustração amorosa ou coisa que o valha. Daí o receio de se abrir, pois mostrar alguma fragilidade pode significar perda de credibilidade e exclusão dos trabalhos, pode render o estigma indigesto de obsediado.


Some-se a tudo isso o fato que, embora espíritas, a maioria de nós tem vivido na prática como bons materialistas. Interagindo numa sociedade altamente competitiva, temos sido sutilmente seduzidos pelo supérfluo, em detrimento do essencial. O objetivo primordial da vida passou a ser o sucesso profissional, social e financeiro, que inclui produzir, consumir e ostentar (desde títulos acadêmicos e profissionais a bens materiais). Mas ser “bem sucedido” dá muito trabalho. Os inúmeros cursos, viagens e horas extras à noite, fins de semana e feriados, somados à necessidade exacerbada de ter, tomam-nos muito tempo. Então os compromissos espirituais deixam de ser prioridade. Vão sendo adiados ou assumidos pela metade, encaixados nas sobras de tempo que restam de tudo o que é material e “urgente.” Passa-se então a ir à Casa Espírita quando dá... Só pra bater o ponto... E de preferência “correndinho,” como quem dá um pulinho no supermercado mais próximo só pra suprir uma ou outra coisa que está em falta na despensa. Nem bem acabou o “assim seja” e as pessoas já saem feito foguete para “levar ou buscar Fulaninho e Beltraninha não sei onde”... Ou para compromissos que poderiam tranquilamente ser agendados em outra data.


Ora, quanto mais superficial a convivência, mais frieza nas relações. Passamos então a nos esbarrar na Instituição, não como irmãos, mas como meros colegas de trabalho; a viver uma vida paralela fora do Grupo Espírita, com um circulo de relações à parte, onde dificilmente há lugar para os companheiros de ideal.

Em que vão escuro do preciosismo doutrinário e do igrejismo teremos perdido a sensibilidade, o prazer de estar juntos, os laços de amizade que extrapolavam os muros da Casa Espírita? Em que lugar do tempo foram parar as gostosas confraternizações extra-reuniões... Os agradáveis bate-papos após as atividades... A amizade parceira que se estendia para os programas de lazer em comum... O olhar atento que detectava quando esse ou aquele amigo não estava bem... O interesse verdadeiro pelo bem-estar uns dos outros?... Talvez seja mais fácil culpar a correria e o medo da violência dos dias atuais - alegando que é perigoso chegar tarde em casa ou pretextando falta de tempo ou pretextando “a a ante os "?- do que responder honestamente a essas perguntas, mas uma coisa é inegável: Coragem é questão de fé, e tempo é questão de prioridade.

E são tantos os irmãos que reclamam atenção especial... Companheiros solitários para os quais os fins de semana são intermináveis e que, se acolhidos, com certeza se sentiriam muito melhor!... Companheiros em processos reencarnatórios difíceis ou em períodos de crise existencial, para os quais faria toda a diferença uma conversa amorosa, a presença amiga naquele momento crucial ou a festinha surpresa de aniversário. Celebrar gente é trabalhar a auto-estima individual e coletiva. Quando as pessoas se sentem valorizadas, quando são envolvidas em ambiente de carinho, alegria e leveza, todo o grupo se torna mais harmônico, feliz e produtivo.

“Espíritas, amai-vos e instruí-vos!” - Recomendou o Espírito de Verdade. A construção da frase sinaliza, clara e pedagogicamente, para a ação prioritária. Teoria já temos de sobra. Agora é aplicá-la no cotidiano das relações. É avaliar com honestidade até que ponto ser impecável, indispensável e PHD em Espiritismo, tem sido mais importante do que ser irmão.
“Reconhecereis os meus discípulos por muito se amarem” – afirmou Jesus. Neste momento é imperioso resgatar a nossa identidade de seguidores sinceros do Mestre, buscando interagir com sinceridade e companheirismo. Como distribuir aos que chegam o afeto, o aconchego e a tolerância que sequer conseguimos construir entre nós, companheiros de caminhada e de ideal?

Repensemos. Continuar a brincar de ser fraternos, alimentando a distância entre o discurso e a pratica da legítima fraternidade, é um enorme desserviço a nossa própria evolução e felicidade. O mundo espiritual tem nos alertado que das boas intenções de teóricos e indiferentes espíritos-espíritas o umbral já está cheio... E os hospitais das colônias espirituais também!.. Muito embora - pra sorte nossa - em casos de extrema pobreza e vulnerabilidade espiritual a Misericórdia Divina nunca negue licença pra mais um puxadinho."

Joana Abranches
*Joana Abranches - Assistente Social, escritora e presidente da Sociedade Espírita Amor Fraterno - Vitória – ES – joanaabranches@gmail.com amorefraterno@gmail.com

4 de jul. de 2011

A CARROÇA VAZIA


Interessante conto Zen budista... e serve como exemplo para nós!

Certa manhã, um homem muito sábio, convidou sua filha a dar um passeio no bosque, e ela aceitou com prazer. Ele se deteve numa clareira e depois de um pequeno silêncio perguntou-lhe:

Além do cantar dos pássaros, você está ouvindo mais alguma coisa?

Ela apurou os ouvidos alguns segundos e respondeu:

Estou ouvindo, um barulho de carroça.

Isso mesmo, disse ele, é uma carroça vazia.

Ela Perguntou-lhe:

Como pode saber que a carroça está vazia, se ainda não a vimos?

Ora, respondeu ele:

É muito fácil saber que uma carroça está vazia por causa do barulho. Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que faz...

Tornou-lhe adulta, e até hoje, quando houve uma pessoa falando demais, alto, tratando o próximo com grossura inoportuna, prepotente, interrompendo a conversa dos outros, e etc, tenho a impressão de ouvir a voz daquele homem dizendo:

"Quanto mais vazia a carroça, mais barulho ela faz...".


Fonte: http://t0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQpO22DV32uJWKSGzsvvHrXrOnnID6ChedVUxvqL6CYziZ3Ugnw