29 de nov. de 2009

DESERTO... DESERTO... Jean Yves Leloup



"As crises que atravessamos, quer seja em um nível pessoal, coletivo ou cósmico, podem ser ocasiões (kairós) de voltar ao 'essencial' de escolher 'o único e necessário' que tornará a nossa vida e a da Humanidade não apenas possível, mas justa e feliz.

Na procura dessa essência e do único necessário, precisamos enfrentar encruzilhadas da vida, trilhar desertos que as difuldades inóspitas forjaram para o amadurecimento do ser.

Cada Ser Humano tem seu deserto para atravessar.

Essa trilha é de inteira responsabilidade pessoal, são inúmeras tradições espirituais da humanidade que apresentam o deserto como local para construção de um novo ser. Na verdade o deserto pode até ser um local... e também não ser local nenhum. Paradoxos, meu caro(a)!
Mas evoca um 'estado' da alma de silêncio, e de partida e de encontro consigo mesmo, permitindo-nos verificar os elementos dos quais o ícone é composto, as cores e as formas que o estruturam, e as razões que explicam seu poder inspirador.



Eis o convite
Partir para o deserto
Ir-se embora
Caminhar ... ir mais além
Ilimitado

Para o além do além
Mais longe ainda
De si mesmo

Transpirar e voltar
E diante de tudo resgatar
O grande encontro consigo mesmo

Para ficar bem perto de si mesmo
Bem mais perto
Pertinho


"Ir para o deserto é, em primeiro lugar, "partir em direção a si mesmo" e é a isto que somos convidados. Para realmente conhecer a si mesmo é preciso "deixar" para trás várias memórias que confundimos com nossa identidade. Deixar o conhecido, o reconhecido que cremos ser, pelo desconhecido, o não-conhecido que somos. Quando a consciência se cala, quando ela não tem mais palavras, imagens, ou conceitos a dizer, entramos em um espaço infinito que é simbolizado pelo espaço sem limites do deserto."

O que evoca para nós a palavra deserto?

Areias quentes, silêncio, imensidão, vento abrasador? Não apenas. Evoca também sede, miragens, escorpiões... e o encontro do mais simples de si mesmo no olhar assombrado e surpreso do homem ou da criança que brota não se sabe de onde – entre as dunas?

Existem os desertos de pedras e de areias, o deserto do Hoggar, de Assekrem, de Ténéré e do Sinai e de outros lugares ainda... o deserto é sempre o alhures, o outro lugar, um alhures que nos conduz para o mais próximo de nós mesmos.

Existem os desertos na moda, onde a multidão se vai encontrar como um pode tagarela, em espaços escolhidos, onde nos serão poupadas as queimaduras do vento e as sedes radicais; deles se volta bronzeado como de uma temporada na praia, mas ainda por cima, com pretensões à “grande experiência”, que nos transformaria para sempre em “grandes nômades”...

Existem, enfim, os desertos interiores. Temos que falar deles, saber reconhecer o que apresentam de doloroso e tórrido, mas tentando também descobrir, aí, a fonte escondida, o oásis, a presença inesperada que nos recebe, debaixo de uma palmeira sorridente, em redor de uma fogueira onde a dança dos “passantes” se junta à das estrelas. Pois o deserto não constitui uma meta; é, antes, um lugar de passagem, uma travessia. Cada um, então, tem a sua própria terra prometida, sua expectativa que deverá ser frustrada, sua esperança a esclarecer.

Algumas pessoas vivem esta experiência do deserto no próprio corpo; quer isto se chame envelhecer, adoecer ou sofrer as conseqüências de um acidente. Esse deserto às vezes demora muito a ser atravessado.

Outras pessoas vivem o deserto no coração das suas relações, deserto do desejo ou do amor, das secas ou dos aborrecimentos que não aprendemos a compartilhar.

Há também os desertos da inteligência, onde o mais sábio vai esbarrar no incompreensível e o mas consciente no impensável. Só conseguimos conhecer o mundo e as suas matérias, a nós mesmos e às nossas memórias quando atravessamos os desertos.

Temos, finalmente, o deserto da fé, o crepúsculo das idéias e dos ídolos, que havíamos transformado em deuses ou em um Deus, para dar segurança às nossas impotências e abafar as nossas mais vivas perguntas.

Cada pessoa tem seu próprio deserto a atravessar. E a cada vez será necessário desmascarar as miragens e também contemplar os milagres: o instante, a aliança, a douta ignorância e a fecunda vacuidade.

"Sem a página em branco onde ficariam as palavras?

Não foi no deserto que o homem inventou Deus?

Na ausência das coisas ou no seu silêncio descobrimos a Presença que para sempre as conterá: Evidente, mortal e viva vacuidade...

No deserto não há nada a ser visto e é isto que precisamos ver ao menos uma vez na vida: nada ver com os olhos bem abertos.

E a morte não terá, então, nada mais a nos ensinar."

No deserto
Descobre-se
A pátria

E então vem a partida
Da grande miragem comum

No deserto
Duas certezas:
A sede - a poeira.
Entre estas duas
Certezas:
Uma dúvida
Um desejo:
Água!...




Roberto Crema também fala sobre as inúmeras questões a cerca do Deserto!
A tradição dos Terapeutas do Deserto, e oferece um olhar sobre o ser humano que respeita suas diversas dimensões: o corpo, a psique, a consciência e a essência, em busca da Inteireza Humana. O quanto de deserto existe na escuta e na visão?

Que terrenos inóspitos!

A tarefa do terapeuta é mostrar que, a iniciação na prática visionária que os inspirou é possível para todos, basta ensinar e permitir caminhar além de roteiros... as vozes clamam.


Vozes do deserto se levantam,
para os preparados para escutar
a mensagem dos camelos
em lenta e precisa Caravana.

Vestes ao vento, véu no rosto,
que protege e realça o mistério do olhar.

Espada na mão,
para cortar o fio da ilusão.

Amor no peito, qual chama a brilhar
e a transmutar a dor em flor.

Abismos, abismos e abismos
onde me lanço qual pedra no poço,
alma.

Mensagens vastas, de travessia da imensidão desértica, vacuidade fecunda, rumo ao Oásis de uma plenitude possível, de um sorriso apaziguado.

O deserto é o que nos murmura, docemente:

Tudo é miragem, tudo passa.
Exceto o Ser, exceto o Amor.



Roberto Crema

22 de nov. de 2009

A ARTE DE VIVER A PASSAGEM


Inspirado no livro da vida e da morte dos Tibetanos, Pierre Weil facilitava esse seminário apontando para as oportunidade que representam os intervalos existentes antes, durante e depois da passagem, para realizar a verdadeira natureza do espírito e representa uma grande aventura, tal qual a vida...

Aprendendo a vivenciar e reflexionar sobre a intencionalidade no processo evolutivo e a aprendizagem do viver e do morrer como estados diferenciados provisórios e impermanentes. Apoiando-se nas descobertas mais recentes da Psicologia Transpessoal e da Parapsicologia dá uma demonstração insofismável de que a morte é não somente uma ilusão, mas também uma grande oportunidade para a transcendência.

Aprendendo a viver a morte aprendemos a viver a vida.

E todos um dia terá exaurido seu tempo na terra, e aprenderá compreender com arte a fórmula serena de dizer adeus. Aos que ficam, apenas saudades... Aos que partem alegrias do retorno a pátria espiritual.

E A VIDA CONTINUA...




20 de nov. de 2009

METAPRINCÍPIO - SERVIÇO



Eu dormia e sonhava que a vida era alegria
Despertei e vi que a vida era serviço
Servi e vi que a vida era alegria.
Rabindranath Tagora


Finalmente, o quinto metaprincípio é o do serviço, o viço do Ser, que expressa a suprema Lei do Amor, esse amor de onde viemos e para onde retornaremos, já que estamos condenados a amar.

A existência é uma escola para onde viemos aprender a amar e a servir a partir de uma vocação particular. Não há forma de servir mais excelente do que você se tornar quem você realmente é.

Eis um outro poema altaneiro do grande Tagore:

Oh amigo meu, amiga minha,

meu coração está angustiado

pelo peso de todos os tesouros,

que não entreguei a ti.

O que nos pesa é o que retemos, o que não ofertamos. Na realidade, apenas temos o que oferecemos, o que servimos, que nenhum ladrão e nem mesmo a morte poderá nos roubar.



Para que demolir os muros da prisão do apego?

Para que forjar o aço do Ser através da plena atenção?

Para que cruzar o vale de lágri­mas no veículo da aceitação, transmutando a dor em flor?

Para que des­velar a vocação e esculpir a existência como uma obra-prima?

Para que realizar-se plenamente, se não for para servir!


O quinto metaprincípio focaliza a lei do amor, a terapia essencial. Cuidar da dor, não da minha dor, mas da dor do outro.

Velar pelo outro autenticamente, não visando retribuição, implica auto-transcendência: quando me esqueço e, pelo outro, me esvazio de mim mesmo, abre-se um espaço intensa­mente vital por onde atuam as forças curativas da Natureza.

Servir é o princípio que desvela a verdadeira compaixão, e com ela que se caminha para auto-transcendência.

Eis o epitáfio que gostaria, quem sabe um dia, de merecer:
Confesso que servi.

Crema Roberto. Saúde e plenitude. Um caminho para o Ser. Editora Summus, 1995, 1ª edição, São Paulo-SP.




18 de nov. de 2009

A VERDADE INTERIOR



Nós sempre sabemos qual o nosso problema.

Basta olhar para dentro.


No nosso íntimo, sempre sabemos o que é verdadeiro ou não. Por mais que tentemos escamotear nossos sentimentos para o mundo externo, dentro de nós, sabemos o que se passa.


Por isso, o mestre interior diz: "Você sabe qual é o problema e também compreende a verdade da questão."


Para chegar à verdade interior de nossos pensamentos, precisamos ficar receptivos, suspender idéias preconcebidas e não rotular as pessoas. Devemos também rejeitar a idéia de que algo não pode funcionar. Não temos como presumir isso.


Chegou o tempo de dar vez ao impossível e ao improvável. Eles podem acontecer...


Acreditar nisso é, de certa forma, ficar dependente do Cosmo, permitindo que ele nos guie. O poder da verdade interior acumula-se à medida que conhecemos as Leis Cósmicas.


Por exemplo, com o Livro das Mutações, aprendemos que não adianta provocar resultados através do conflito. A raiva, por mais justificada que seja, bloqueia a solução correta.


Quando somos firmes na busca da verdade interior, nossa firmeza é compreendida a milhares de distância. Essa verdade pode ser ainda desconhecida por nós, mas não importa.


Devemos confiar nela do mesmo jeito, mantendo-nos abertos a percebê-la, a captá-la a qualquer momento. Aí, a solução que buscamos surgirá naturalmente, mesmo que ainda não sejamos capazes de compreender o que está acontecendo.


A verdade interior não pode ser dominada, guardada e usada a nosso bel-prazer. Primeiro, devemos apreendê-la intuitivamente, depois confirmá-la experimentalmente. Assim, o insight se torna conhecimento do coração.


Não podemos nem mesmo captar a verdade interior enquanto não estivermos em sintonia com nosso eu mais profundo, com as vibrações que emanam das coisas. Mas, uma vez em contato com ela, podemos usá-la como um recurso inesgotável.


Ela sempre nos indicará o caminho certo, em meio a todas as dificuldades. (Wu Fang).


Sábio é aquele que ouve antes de falar, que sorri antes de chorar, que permanece quieto para sentir o frescor da brisa do seu interior. Lao Tsé.


Entregue ao Universo.


Deixe estar nas mãos Divinas.


Deixe estar...


17 de nov. de 2009

O AMOR É COMPREENSÃO


Há muitos tipos de amor. A vida tem uma grande necessidade da presença do amor, mas não do tipo de amor que se baseia na sensualidade, paixão, apego, discriminação e pré-concepção.

Há um outro tipo de amor, certamente necessário o qual consiste na generosidade amorosa e na compaixão.

Geralmente, quando as pessoas falam de amor, estão se referindo apenas ao amor que existe entre pais e filhos, casais, familiares ou entre membros de uma classe ou país.

Como a natureza de tal amor depende dos conceitos de ‘meu’ e ‘minha’, ele permanece enredado em apego e discriminação.

Pessoas apegadas se preocupam com acidentes que possam atingir seus entes queridos antes mesmo de ocorrerem.Caso ocorram, sofrem terrivelmente.

O amor baseado na discriminação gera preconceito.

As pessoas tornam-se indiferentes ou mesmo hostis ao que está além do seu próprio círculo de amor.

O amor de que todos os seres verdadeiramente estão sedentos é a generosidade amorosa e a compaixão.

Generosidade é o amor que é capaz de levar felicidade ao outro.

Compaixão é o amor capaz de remover o sofrimento do outro.

Nada pedem ou esperam em troca.

Se estendem a todas as pessoas e seres.

Não há nem ‘meu’ ou ‘não meu’. Onde não há discriminação, não existe apego.

Com a generosidade amorosa e compaixão, a vida se enriquece de paz, alegria e contentamento."

Fonte:

THICH NHAT HANH. Velho Caminho Nuvens Brancas- Seguindo as Pegadas do Buda. Amor é Compreensão (pag. 42).

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15 de nov. de 2009

O ABRAÇO DE DR. BEZERRA


Era uma terça-feira do mês de junho de 1886. Bezerra de Menezes acabava de presidir a uma das sessões públicas da Casa de Ismael, na Av. Passos - RJ.

Sua palavra esclarecida e carinhosa, à moda de uma chuva fina e criadeira, no dizer de M. Quintão, penetrava nas almas de quantos encarnados e desencarnados lhe ouviam a evangélica dissertação sobre uma Lição do "Livro da Vida"!

Os olhos estavam marejados de lágrimas, tanto de ouvintes como os do próprio orador.

Acabada a sessão, descera Bezerra com passos tardos, ainda emocionado, as escadas da Federação Espírita Brasileira.

E ia, humildemente, indagando dos mais íntimos, se ferira alguém com sua palavra que lhe perdoassem o descuido e ia descendo e afagando a todos que o esperavam ávidos dos seus conselhos, dos seus sorrisos, do seu olhar manso e bom.

No sucedâneo da escada, localizou um irmão, de seus 45 anos, cabelos em desalinho, com a roupa suja e amarrotada.

Os dois se olharam. Bezerra compreendeu logo que ali estava um caso, todo particular, para ele resolver.

Oh! Benditos os que têm olhos no coração!

E Bezerra os tinha e tem!

E levou o desconhecido para um canto e lhe ouviu, com atenção, o desabafo, o pedido.

- Dr. Bezerra, estou sem emprego, com a mulher e dois filhos doentes e famintos...
E eu mesmo, como vê, estou sem alimento e febril!

Bezerra apiedado, verificou se ainda tinha algum dinheiro. Nada encontrou nos bolsos. Apenas a passagem do bonde... Tornou-se mais apiedado e apreensivo. Levantou os olhos já molhados de pranto para o Alto e, numa prece muda, pediu inspiração a seu anjo tutelar e solucionador de seus problemas.

Depois, virando-se para o irmão.
- Meu filho, você tem fé em Deus?
-Tenho e muita Dr. Bezerra!
- Pois então, em seu santíssimo nome, receba esta abraço.
E abraçou o desesperado irmão, envolvente e demoradamente.

E, despedindo-se:
-Vá, meu filho, na paz de Jesus e sob a proteção do Anjo da Humanidade.
E, em seu lar, faça o mesmo com todos os seus familiares, abraçando-os, afagando-os. E confie no amor de Deus, que seu caso há de ser resolvido.

Bezerra partira.

A caminho do lar, meditava, teria cumprido seu dever, será que possibilatara ajuda ao irmão em prova, faminto e doente?

E arrependia-se por não lhe haver dado senão um abraço.

Não possuía nenhum dinherio. O próprio anel de grau já não estava em seus dedos, Tudo havia dado. Não tendo dinheiro dera algo de si mesmo, vibrações, bom ânimo, moeda da alma, ao irmão sofredor e não tinha certeza de que isso lhe bastara...

E, neste estado de espírito, preocupado pela sorte de um seu semelhante, chegou ao lar.

Uma semana se passara.

Bezerra não se recordava mais do sucedido.
Muitos eram os problems alheios.
Após a sessão de outra terça-feira, descia as escadas da Federação.
Alguém, no mesmo lugar da escada, trazendo na fisionomia toda a emoção do agradecimento, toca-lhe o braço e lhe diz:

-Venho agradecer-lhe, Dr. Bezerra, o abraço milagroso que me deu na semana passada, neste local e nesta mesma hora. Daqui saí logo sentindo-me melhor. Em casa, cumpri seu pedido e abracei minha mulher e meus filhos. Na linguagem do coração, oramos todos a Deus. Na água que bebemos e demos aos familiares, parece, continha alimento, pois dormimos todos bem.
No dia seguinte, estávamos sem febre e como alimentados... E veio-me uma inspiração, guiando-me a uma porta que se abriu e alguém por ela saiu, ouviu meus problemas, condoeu-se de mim e me deu um emprego, no qual estou até hoje. E venho lhe agradecer a grande dádiva que o senhor me deu, arrancada de si mesmo, maior e melhor do que dinheiro!

O ambiente era tocante!

Lágrimas caíam tanto dos olhos de Bezerra como do irmão beneficiado e desconhecido.

E uma prece muda, de dois corações unidos, numa mesma força gratulatória, subiu aos céus, louvando quele que é, em verdade, a porta de nossas esperanças, o advogado querido de todas as nossas causas!

LOUVADO SEJA O NOME DE DEUS!

E ABENÇOADO SEJA O NOME DE QUEM, EM SEU NOME, NUM ABRAÇO, FAZ MARAVILHAS, A VERDADEIRA CARIDADE DESCONHECIDA!

Dr. Bezerra de Menezes era médico de homens e de almas.



Você já deu um abraço em alguém hoje? Não custa nada e faz uma grande diferença.

Um abraço em nome de Deus, faz maravilhas!

Tenha uma excelente semana!

Fonte:
Gama Ramiro. Lindos Casos de Bezerra de Menezes.

13 de nov. de 2009

GENTILEZA E AFETO


As pupilas dilatadas pelo amor humano. Gentileza e Afeto.

Há algum tempo, li não sei onde um episódio ocorrido com uma escritora que foi passar dois meses numa região montanhosa de um país europeu, num período do ano em que era freqüente acontecerem grandes tempestades; ia com o propósito de conhecer os costumes da gente do campo e colher assim material para um romance.

Quando estava desfazendo as malas no pequeno chalé que alugara, com a ajuda da caseira que morava perto dali, desabou um grande temporal e as luzes se apagaram. A caseira acendeu umas velas e, enquanto atiçava o fogo na lareira, bateram à porta. Era um rapazinho de uns doze anos, conhecido da caseira. Depois de recuperar o fôlego, o menino disse:


- Vim ver se está tudo bem com a senhora.

A caseira agradeceu e apresentou-o à escritora. Como a ventania aumentasse e a chuva caísse com mais força, o rapaz perguntou à recém-chegada:


- A senhora não tem medo?

A escritora ia dizer que não, mas a caseira, que evidentemente não estava nem um pouco assustada, atalhou-a:


- É claro que ela estava morrendo de medo, assim como eu. Mas agora temos um homem aqui, e tudo vai ficar bem.

Quando a tormenta passou, o menino despediu-se e saiu, capengando do modo mais garboso que podia.

A escritora ficou pensativa e perguntou-se: "Por que não me ocorreu responder à pergunta do menino como a caseira?"

E evocou tantas situações da sua vida em que se mostrara pouco sensível às necessidades dos outros por estar absorvida nas suas coisas.


"Que havia naquela mulher simples do campo - continuou a pensar - que a tornava capaz de transformar um menino aleijado num homem confiante?"


E teve de reconhecer: simples detalhes de gentileza e afeto.

Pois é precisamente no convívio com as outras pessoas que a atenção para os detalhes se reveste de um significado especial.

Merece até um nome particular: delicadeza, que reclama uma grande diligência e grandeza de alma. É ela que permeia todas as virtudes próprias da convivência, como a cordialidade, a afabilidade, o acolhimento, o perdão, a paciência, enfim, a caridade.


Manifesta-se principalmente, em palavras de Machado de Assis, "nesse desejo de bem servir que é a alma de toda a cortesia".

Nunca deveria dar-se motivo para o comentário cético daquele que dizia que o lar é o centro geométrico das grandes dedicações e das pequenas desatenções.

Mas trata-se de exercitar a "arte de ser amável" não apenas no sentido ativo, mas também no sentido passivo, isto é, facilitando aos outros que nos queiram bem.

Quando penso nisto, lembro-me sempre de um cantor nacional que, há uns trinta anos, fazia um programa de TV com muito sucesso e que, no fim de cada apresentação, se despedia com as mesmas palavras:


"Continuem a querer-me bem, que não custa nada".


É isso o que quero dizer com ser amável no sentido passivo: que, pela nossa gentileza, não custe aos outros nada ou quase nada querer-nos bem.


Fonte:

Fonseca J Malvar. Coisas Pequenas. Editora Quadrante, São Paulo, 1996.

Gentileza a Afeto devem andar de mãos dadas. É por meio do bom e gentil contato com o outro que formamos uma consciência numinosa.

Segue flores perfumadas para cada ser de luz que nos adicionou e nos visita, nos dois blogs.Vida perfumada pelo amor é uma vida com trilhas iluminadas.Feliz dia da GENTILEZA!

Paz Profunda!


11 de nov. de 2009

ZEN E O TRABALHO


O zen budismo pode significar uma fonte inspiradora para o paradigma ocidental em crise bem como para a vida cotidiana. Isso porque o zen não é uma teoria ou filosofia. É uma prática de vida que se inscreve na tradição das grandes sabedorias da humanidade.

O zen pode ser vivido pelas mais diferentes pessoas, simples donas de casa, empresários e pessoas religiosas de diferentes credos.


O centro para o zen budismo não está na razão, tão importante para a nossa cultura ocidental. Mas na consciência. Para nós a consciência é algo mental. Para o zen budismo cada sentido corporal possui a sua consciência: a visão, o olfato, o paladar, a audição e o tato. Um sexto é a razão. Tudo se concentra em ativar com a maior atenção possível cada uma destas consciências, a partir das coisas do dia-a-dia. Possuir uma atitude zen é discernir cada nuance do verde, perceber cada ruído, sentir cada cheiro, aperceber-se de cada toque. E estar atento às perambulações da razão no seu fluxo interminável.

Por isso, o zen se constrói sobre a concentração, a atenção, o cuidado e a inteireza em tudo aquilo que se faz. Por exemplo, expulsar um gato da poltrona pode ser zen; também libertar os cachorros do canil e deixá-lo correr pelo no jardim.

Conta-se que um guerreiro samurai antes de uma batalha visitou um mestre zen e lhe perguntou: "que é o céu e o inferno"?

- O mestre respondeu: "para gente armada como você não perco nenhum minuto". O samurai enfurecido tirou a espada e disse: "por tal senvergonhice poderia matá-lo agora mesmo".

E
aí disse-lhe calmamente o mestre: "eis aí o inferno".

O
samurai caiu em si com a calma do mestre, meteu a espada na bainha e foi embora. E o mestre lhe gritou atrás: "eis ai o céu."


O que a atitude zen visa, é a completa integração da pessoa com a realidade que vive. Deparamo-nos no meio de diferenças, compartimentando nossa vida. O zen busca o vazio. Mas esse vazio não é vazio. É o espaço livre no qual tudo pode se formar. Por isso não podemos ficar presos a isto e àquilo.

Quando um discípulo perguntou ao mestre: "quem somos"? respondeu apontando simplesmente para o universo: "somos tudo isso". Você é a planta, a árvore, a montanha, a estrela, o inteiro universo.

Quando nos concentramos totalmente em tais realidades, nos identificamos com elas. Mas isso só é possível se ficarmos vazios e permitirmos que as coisas nos tomem totalmente. O pequeno eu desaparece para surgir o eu profundo. Então somos um com o todo. Este caminho exige muita disciplina. Não é nada fácil ultrapassar as flutuações de cada uma das consciências e criar um centro unificador.


Há uma base cosmológica para a busca desta unidade originária. Hoje sabemos que todos os seres provém dos elementos físicoquímicos que se forjaram no coração das grandes estrelas vermelhas que depois explodiram. Todos estávamos um dia juntos naquele coração incandescente. Guardamos uma memória cósmica desta nossa ancestralidade.

Depois, sabemos também que possuímos o mesmo código genético de base presente em todos os demais seres vivos. Viemos de uma bactéria primordial surgida há 3,8 bilhões de anos. Formamos a única e sagrada comunidade de vida.

Ao buscar um centro unificador, o zen nos convida a fazer esta viagem interior. É escusado dizer que tudo isso vale para todos mas principalmente para mim.


Fonte:
Leonardo Boff é Teólogo, professor e membro da Comissão da Carta da Terra


10 de nov. de 2009

MENSAGENS OCULTAS DA ÁGUA



Após muitos anos de estudo o Dr. Masuro Emoto graduado em Yokohama City University, onde atende no Departamento de "Ciência e Humanidade", laborando no Instituo Geral H. I. M. onde iniciou uma excelente pesquisa sobre a água. São esses novos conhecimentos mostrados nos vídeos, desse explorador e pesquisador de um mundo invisível desconhecido e realizado com a água.





Não há nada de oculto que não se possa revelar. Suas pesquisas chegaram a essas brilhantes revelações. Vale a pena assistir.



As modificações dos cristais vão acontecendo paulatinamente com a mudança dos pensamentos.


Agradeço a atenção, mas essas postagens são interessantes ter num blog, até porque muitos visitantes fazem palestras e pode usufruir desses conhecimentos.

Estava passeando pela blogsfera e encontrei um blog muito interessante e instrutivo, "La Ciência de La Naturaleza", clica aí e, conheça esse blog vale a pena passear por ele.

Paz Profunda!

Fonte:
http://www.youtube.com/watch?v=DfBO1o50BU8&feature=player_embedded
http://naturalezacosmica.blogspot.com/2009/09/mensajes-en-el-agua.html#comment-form

9 de nov. de 2009

FORÇA DA PAZ - QUEBRA DO MURO DE BERLIM


Alemães ajudam a quebrar o muro, símbolo maior
da opressão do estado socialista do oriente (URSS)


Fim da "Guerra Fria".
Hoje, 9 de novembro de 2009, completa 20 anos da queda do muro de Berlim é universalmente interpretada como o fim da guerra fria e a vitória do capitalismo e da democracia liberal.

O grande muro era a marca terrível de uma divisão abominável, cicatrizes profundas deixadas nas mentes dos alemães divididos. Famílias inteiras sem ver seus parentes, e vivendo tão perto, separados apenas por um muro, diga-se de passagem um "MURO VERGONHOSO". Uma divisão entre dois blocos, um capitalista, liderado pelos Estados Unidos; e outro socialista que tinha a União Soviética como cabeça, coração e cofre.
Quando a parede caiu, foi carimbada a vitória do lado ocidental e, de quebra, declarado o fim do sentido da distinção entre esquerda e direita.

Nesse festival de abraços do reencontro, contam que a cada retirada de uma pedra do muro, os alemães cantava:

Força da Paz.
Cresça
Cresça sempre mais
Que reine a paz
Acabem-se as fronteiras
Força da Paz



Segue uma galeria de fotos, clica aqui.

Essa notícia eu vi, no blog da amiga Carmem L Vilanova "Eu Sei Que Vou Te Amar. Viver Integral. Clica aí e conheça esse blog.

Abraços ricos de PAZ PROFUNDA!


7 de nov. de 2009

O ESPELHO ENEVOADO



Três mil anos atrás, havia um ser humano, como eu e você, que vivia perto de uma cidade cercada de montanhas. O ser humano estudava para tornar-se um xamã, para aprender a sabedoria de seus ancestrais, mas não concordava completamente com tudo aquilo que aprendia. Em seu coração, sentia que existia algo mais.

Um dia, enquanto dormia numa caverna, sonhou que viu o próprio corpo dormindo.

Saiu da caverna numa noite de lua nova. O céu estava claro e ele enxergou milhares de estrelas.

Então, algo aconteceu dentro dele que transformou sua vida para sempre. Olhou para suas mãos, sentiu seu corpo e escutou a própria voz dizendo:

"Sou feito de luz; sou feito de estrelas".

Olhou novamente para as estrelas e percebeu que não eram as estrelas que criavam a luz, mas antes a luz que criava as estrelas .

"Tudo é feito de luz", acrescentou ele, "e o espaço no meio não é vazio". E ele soube tudo o que existe num ser vivo, e que a luz é a mensageira de vida, porque está viva e contém todas as informações.

Então, compreendeu que embora fosse feito de estrelas, ele não era essas estrelas.

"Sou o que existe entre as estrelas", pensou.

Então, chamou as estrelas de tonal e a luz entre as estrelas, de nagual, e soube que o que criava a harmonia e o espaço entre os dois é a Vida ou Intenção.

Sem a vida, o tonal e o nagual não poderiam existir. A Vida é a força do absoluto, do supremo, do criador que cria tudo.

Foi isso o que ele descobriu: tudo o que existe é uma manifestação do ser que denominamos Deus. Tudo é Deus.

E ele chegou à conclusão de que a percepção humana é apenas a luz que percebe a luz.

Também viu que a matéria é um espelho - tudo é um espelho que reflete luz e cria imagens dessa luz - e o mundo da ilusão, o Sonho, é apenas fumaça que não permite que enxerguemos quem realmente somos.

"O verdadeiro nós é puro amor, pura luz",
disse ele.

Essa compreensão mudou sua vida. Uma vez que ele soube quem realmente era, olhou ao redor para os outros seres humanos e para o restante da natureza e ficou surpreso com o que viu. Viu a ele mesmo em tudo - em cada ser humano, em cada animal, em cada árvore, na água, na chuva, nas nuvens, na terra. E viu que a Vida misturava o tonal e o nagual de formas diferentes para criar bilhões de manifestações de Vida.

Naqueles poucos momentos ele compreendeu tudo. Ficou muito excitado, e seu coração encheu-se de paz. Mal podia esperar para contar ao seu povo o que descobrira. Mas não havia palavra para explicar. Tentou falar com os outros, mas eles não conseguiam entender.

Eles perceberam que o homem havia mudado, que algo bonito se irradiava dos olhos e da voz dele.

Repararam que ele não julgava mais as coisas e as pessoas. Ele não era mais como os outros.
Ele entendia os outros muito bem, mas ninguém conseguia entendê-lo.

Acreditavam que ele fosse a encarnação viva de Deus, e ele sorriu quando escutou isso, e lhes disse:

"É verdade. Sou Deus. Mas vocês também são Deuses."

Somos o mesmo, você e eu. Somos imagens de luz. “Somos Deuses". Mesmo assim, as pessoas não o entenderam.

Havia descoberto que era um espelho para as outras pessoas, um espelho no qual podia observar a si mesmo.

"Todo mundo é um espelho", disse ele.

Viu a si mesmo em todos, mas ninguém o viu como eles mesmos. Então compreendeu que todos estavam sonhando, mas sem consciência, sem saber o que realmente eram.

Não podiam enxergá-lo como eles mesmos porque havia uma parede de nevoeiro entre os espelhos. E essa parede era construída pela interpretação das imagens de luz - o Sonho dos seres humanos.

Então, ele percebeu que logo iria esquecer tudo o que aprendera. Queria lembrar-se de todas as visões que tivera; portanto, decidiu chamar a si mesmo de Espelho Enevoado, para que sempre soubesse que a matéria é um espelho e que a névoa do meio é o que nos impede de saber quem somos.

Ele disse:

"Sou o Espelho Enevoado, porque estou vendo a mim mesmo em todos vocês, mas nós não reconhecemos um ao outro por causa do nevoeiro entre nós. Esse nevoeiro é o Sonho, e o espelho é você, o sonhador".




Fonte: Don Miguel Ruiz. Os Quatro Compromissos: O livro da Filosofia Tolteca. Editora Best Seller.


Esse resumo recebi por email, por isso não coloco o crédito de quem o fez. Se souber, remeta no comentário. Agradeço

5 de nov. de 2009

DIZIA JESUS: FILHO MEU


Filho Meu
Quando, nas horas de íntimo desgosto, o desalento te invadir a alma e as lágrimas te aflorarem aos olhos, busca-me:

Eu sou AQUELE que sabe sufocar-te o pranto e estancar-te as lágrimas.

Quando se te extinguir o ânimo para lutares pelas dificuldades da vida e te achares na iminência de desfalecer, chama-me:

Eu sou a FORÇA capaz de remover-te as pedras dos caminhos e sobrepor-te às adversidades do mundo.

Quando, sem clemência, te açoitarem os vendavais da sorte e já não souberes onde reclinar a cabeça, corre para junto de mim:

Eu sou o REFÚGIO, em cujo seio encontrarás guarida para o teu corpo e tranqüilidade para o teu espírito.

Quando te faltar a calma, nos momentos de maior aflição, e te considerares incapaz de conservar a serenidade de espírito, invoca-me:

Eu sou a PACIÊNCIA, que te faz vencer os transes mais dolorosos e triunfar das situações mais difíceis.

Quando te debateres com os mistérios da dor e tiveres a alma machucada pelos obstáculos dos caminhos, grita por mim:

Eu sou o BÁLSAMO que te cicatriza as chagas e te minora os padecimentos.

Quando o mundo te iludir com suas falsas promessas e perceberes que já ninguém pode inspirar-te confiança, vem a mim:

Eu sou a SINCERIDADE, que sabe corresponder à franqueza de tuas atitudes e à nobreza de teus ideais.

Quando a tristeza e a melancolia te povoarem o coração e tudo te causar aborrecimento, clama por mim:

Eu sou a ALEGRIA, que te insufla um alento novo e te faz conhecer os encantos de teu mundo interior.

Quando, um a um, te destruírem os ideais mais belos e te sentires no auge do desespero, apela para mim:

Eu sou a ESPERANÇA, que te robustece a fé e te acalenta os sonhos.

Quando a impiedade recusar-se a revelar-te as faltas e experimentares a dureza do coração humano, procura-me:

Eu sou o PERDÃO, que te levanta o ânimo e te promove a reabilitação de teu espírito.

Quando duvidares de tudo, até de tuas próprias convicções, e o ceticismo te avassalar a alma, recorre a mim:

Eu sou a CRENÇA, que te inunda de luz o entendimento e te habilita para a conquista da felicidade.

Quando já não provares a sublimidade de uma afeição terna e sincera e te desiludires do sentimento de teu semelhante, aproxima-te de mim:

Eu sou a RENÚNCIA, que te ensina a entender a ingratidão dos homens e a esquecer a incompreensão do mundo.

E quando, enfim quiser saber quem sou, pergunta ao riacho que murmura e ao pássaro que canta, à flor que desabrocha e à estrela que cintila, ao moço que espera e ao velho que recorda.

Eu sou a dinâmica da vida e a harmonia da natureza: chamo-me AMOR, o remédio para todos os males que te atormentam o espírito.

Estende-me, pois, a tua mão, ó alma filha de minha alma, que eu te conduzirei, numa seqüência de êxtases e deslumbramentos, às serenas mansões do Pai.

CONFIA NO SENHOR ESPERA, ELE TE ABENÇOARÁ.

Jesus é Luz Curativa que veio ensinar o AMOR, despertando o sublime em nossa alma e devolvendo esperanças aos nossos corações. Também é chamado de Cristo, do grego Kristós ou Cristo (adaptação para o português) significando ‘Aquele que foi enviado’, o ‘Ungido do Senhor’, àquele que derrama o óleo sobre outro ser. Somos seres oleados pelo amor do Cristo, esquecemos disso, e está na hora de relembramos que fomos ungidos pelo Amor Maior desse Ser de Luz.

Cristo, não é nome, é grau evolutivo. Cristificar-se significa voltar a ser Uno com o Pai Divino. Assim, como sinônimo ‘Messias’, palavra de origem hebraica MASHIACH. O ‘Messias’ prometido para a salvação do povo hebreu. Dessa forma, passou a ser chamado, ‘Jesus, o Cristo’, ou Jesus Cristo.

Paz Profunda!




TEU SAARA




"Se você ama alguma coisa, deixe-a livre. Se voltar, é sua. Se não voltar, nunca foi."

Se, no caminho do teu saara, encontrares uma alma que te queira bem, aceita em silêncio o suave ardor da sua benquerença - mas não lhe peças coisa alguma, não exijas, não reclames nada do ente querido.

Recebe com amor o que com amor te é dado - e continua a servir com perfeita humildade e despretensão.

Quanto mais querida te for uma alma, tanto menos a explores, tanto mais lhe serve, sem nada esperar em retribuição.

No dia e na hora em que uma alma impuser a outra alma um dever, uma obrigação, começa a agonia do amor, da amizade.

Só num clima de absoluta espontaneidade pode viver esta plantinha delicada. E quando então essa alma que te foi querida se afastar de ti - não a retenhas.

Deixa que se vá em plena liberdade. Faze acompanhá-la dos anjos tutelares das tuas preces e saudades, para que em níveas asas a envolvam e de todo mal a defendam - mas não lhe peças que fique contigo.

Mais amiga te será ela, em espontânea liberdade, longe de ti - do que em forçada escravidão, perto de ti.

Deixa que ela siga os seus caminhos - ainda que esses caminhos a conduzam aos confins do Universo, à mais extrema distância do teu habitáculo corpóreo.

Se entre essa alma e a tua existir afinidade espiritual, não há distância, não há em todo Universo espaço bastante grande que de ti possa alhear essa alma.

Ainda que ela erguesse vôo e fixasse o seu tabernáculo para além das últimas praias do Sírio, para além das derradeiras fosforescência da Via Láctea, para além das mais longínquas nebulosas de mundos em formação - contigo estaria essa alma querida...

Mas, se não vigorar afinidade espiritual entre ti e ela, poderá essa alma viver contigo sob o mesmo teto e contigo sentar-se à mesma mesa - não será tua, nem haverá entre vós verdadeira união e felicidade.

Para o espírito a proximidade espiritual é tudo - a distância material não é nada. Compreende, ó homem/mulher - e vai para onde quiseres!

Ama - e estarás sempre perto do ente amado...

Em todo o Universo...

Dentro de ti mesmo...

Adeus, alma querida



Esse texto é lindíssimo e define muito bem esse sentimento misterioso chamado AFINIDADE., espero que gostem.

Fonte: Huberto Rohden. De Alma para Alma. Editora Martin Clariet


3 de nov. de 2009

É TEMPO DE TRANSCENDÊNCIA





O PROFETA é aquele que anuncia e denuncia. Anuncia aquilo para qual o ser humano foi essencialmente criado, e denuncia os esquemas que atentam contra seu destino.


A transcendência é a capacidade e o desejo de romper limites, de ir além, superar e violar os interditos.

Nesse livro 'Tempo de Transcendência', Leonardo Boff compreende a transcendência como um desejo e uma capacidade do ser humano para transcender a si mesmo, ou seja, de sair de seu estado atual para buscar algo novo.

Ele apresenta a atitude de Adão e Eva no jardim do Édem como expressão de sua transcendência, de sua transformação em ser humano.

Apresenta a transcendência como uma experiência mais sentimental – o apaixonar-se, o êxtase com um experiência, o deslumbramento diante de uma realidade nova, a admiração...

Não é possível segurar ou prender as emoções e os pensamentos do ser humano.

“Rompemos tudo, ninguém nos aprisiona”.


O ser humano é um ser desejante ilimitado.

Mas “quem preenche esse vazio profundo dentro de nós?

Qual é o objeto adequado ao nosso desejo infinito, que nos satisfaz e nos traz descanso?

Por que quero o infinito e só encontro o finito?

Quero o ilimitado, a totalidade, e só encontro fragmentos?

Aqui se revela o ser humano como um ser protestante e insatisfeito.”


Três atitudes (respostas) possíveis com relação à abertura ao ilimitado:

1) Existencialismo. Viver de si para si mesmo. A abertura do ser humano para o transcendente não encontra ou busca por um objeto;

2) Agnosticismo. “Sentem o desejo do espírito, identificam um eventual objeto do desejo, mas temem aderir a ele. Sofrem com a falta de resposta;

3) As religiões. Tem coragem de dar nome a esse objeto de desejo chamando-o de Deus. “Deus só tem sentido existencial se for resposta à busca radical do ser humano por luz e caminho a partir da experiência de escuridão e de errância”.


Quando Nietzsche “anuncia a morte de Deus, ele fala do Deus que tem que morrer mesmo, porque é o Deus das nossas cabeças, o Deus inventado, o Deus da metafísica, o Deus que não é vivo”.

O ser humano é um ser essencialmente transcendente. Ele não se conforma com a realidade. Está sempre se projetando ‘para fora’. Busca satisfazer um desejo e uma capacidade para transcender a si mesmo, ou seja, de sair de seu estado atual para buscar algo novo.

O ser humano também é dado a uma pseudotranscendência. São experiências “fabricadas” para levar o ser humano ao êxtase a uma fuga da realidade. Existem critérios que permitem verificar se a transcendência é boa.

O ser humano vive em busca da satisfação do desejo interior que ele carrega consigo. Diante de sua abertura ao ilimitado o ser humano geralmente opta por três escolhas possíveis: negar um objeto de desejo e querer satisfazer-se consigo mesmo; percebe um objeto de desejo que pode satisfazê-lo mas nega a admiti-lo; reconhece um Deus que é a resposta à sua busca existencial.

O cristianismo traz a transparência. Deus vem ao mundo na pessoa de Jesus Cristo e habita entre nós. Deus está em tudo e em todos. A encarnação de Deus em forma de homem constitui a singularidade da espiritualidade cristã.

Assisti três vezes o filme "A Vida é Bela" de Bengnini.

É uma experiência fantástica de transcendência feita por uma criança no transfundo da guerra e do campo, de concentração judeo, alimentando o sonho de ganhar como presente em tanque de guerra. Apesar daquele horror do campo de concentração que cristaliza a negação de toda a diginidade humana, a possibilidade do ser humano, de viver a transcendência, de garantir o sonho e o humor finalmente acaba se realizando: encontrar o tanque real, tanque que o vem libertar a ele e sua mãe.


Noutro caso, ele lembra as memórias de Rudolf Hess, diretor nazista do campo de extermínio de Auschwitz.

Conta que sua função era conduzir judeus á câmara de gás, se me lembro, cerca de um milhão e trezentas pessoas. Foi julgado e antes de ser enforcado, teve tempo de escrever suas memórias. O que impacta é a frieza com que faz, absolutamente convicto da retidão de seu comportamento, pois obedecia ordens do Hitler o “Führer”. E o “Führer; o chefe sempre tinha razão”. E ai pratica o mal com absoluta boa vontade.

Agora entendemos a frase de Pascal:

“Nunca fazemos tão perfeitamente o mal senão quando fazemos de boa vontade”.


Mas há um momento que me abalou, é o momento de transcendência dele. Foi quando, uma mulher com cinco crianças suplicou de joelhos que ele poupasse as crianças. Por um instante ficou embaraçado e perplexo, mas com um gesto brusco mandou que levassem a todos.

Ele comenta:

“Aquele olhar da mulher jamais posso esquecer”. Ele me persegue sempre, até os dias de hoje, porque havia nele tanto enternecimento, súplica, tanta humanidade, que me senti inimigo de minha própria humanidade.


É uma experiência de transcendência pelo reverso, possível até no nazismo mais brutal. Esse olhar ele jamais poderá esquecer e, talvez venha a ser a única experiência em sua vida que despertou algo profundo em sua alma.

Eu espero que cada amigo leitor, vá a procurar de sua experiência de transcendência e conquiste em sua história outras tantas.
Nesse vídeo Leonardo faz uma palestra sobre esse tema, e vale a pena assisitir.
Paz Profunda!
Abraços


Fonte: Boff Leonardo. Tempo de Transcendência. Editora Sextante, 2000.