2 de nov. de 2009

COMO A DOUTRINA ESPÍRITA ENCARA O DIA DE FINADOS?



Realmente o tema desperta algumas dúvidas. Mesmo alguns companheiros espíritas perguntam se devem ou não ir aos cemitérios no dia 2 de Novembro, se isto é importante ou não.


Antes de tudo, lembremos que o respeito instintivo do homem pelos desencarnados, os chamados mortos, é uma consequência natural da intuição que as pessoas têm da vida futura.


Não faria nenhum sentido o respeito ou as homenagens aos mortos se no fundo o homem não acreditasse que aqueles seres queridos continuassem vivendo de alguma forma. É um fato curioso que mesmo aqueles que se dizem materialistas ou ateus nutrem este respeito pelos mortos.


Embora o culto aos mortos ou antepassados seja de todos os tempos, Léon Denis nos diz que o estabelecimento de uma data específica para a comemoração dos mortos é uma iniciativa dos druidas, antigo povo que viveu na região que hoje é a França. Os druidas, um povo que acreditava na continuação da existência depois da morte, se reuniam nos lares, não nos cemitérios, no primeiro dia de novembro, para homenagear e evocar os mortos.


A noção de imortalidade que a maioria das pessoas tem, no entanto, ainda é confusa, fazendo com que as multidões se encaminhem para os cemitérios, como se o cemitério fosse a morada eterna daqueles que pereceram.


O Espiritismo ensina o respeito aos desencarnados como um dever de fraternidade, mas mostra que as expressões de carinho não precisam ser realizadas no cemitério, nem é necessário haver um dia especial para que tais lembranças ou homenagens sejam realizadas.


Mas para os espíritos desencarnados o dia 2 de Novembro tem alguma coisa mais solene, mais importante? Eles se preparam para visitar os que vão orar sobre os túmulos?


É preciso entender que nossa comunicação com os desencarnados é realizada através do pensamento. As preces, as orações, são vibrações do pensamento que alcançam os espíritos.


Nossos entes queridos desencarnados são sensíveis ao nosso pensamento. Se existe entre eles e nós o sentimento de verdadeira afeição, se existe esse laço de sintonia, eles percebem nossos sentimentos e nossas preces, independente de ser dia de finados ou não.


Esse é o aspecto consolador da Doutrina Espírita: a certeza de que nossos queridos desencarnados, nossos pais, filhos, parentes e amigos, continuam vivos e continuam em relação conosco através do pensamento.


Não podemos privar de sua presença física, mas o sentimento verdadeiro nos une e eles estão em relação conosco, conforme as condições espirituais em que se encontrem.

Realizaram a grande viagem de retorno à pátria espiritual antes de nós, nos precederam na jornada de retorno, mas continuam vivos e atuantes.


Um amigo incrédulo uma vez nos falou:

“Só vou continuar vivo na lembrança das pessoas”.

Não é verdade. Continuamos tão vivos após a morte quanto estamos vivos agora. Apenas não dispomos mais deste corpo de carne, pesado e grosseiro.


Então, os espíritos atendem sim aos chamados do pensamento daqueles que visitam os túmulos. No dia 2 de Novembro, portanto, como nos informam os amigos espirituais, o movimento nos cemitérios, no plano espiritual, é muito maior, porque é muito maior o número de pessoas que evocam, pelas preces e pelos sentimentos, os desencarnados.

Questões sobre o tema:

- Se estes desencarnados pudessem se tornar visíveis, como eles se mostrariam?


Com a forma que tinham quando estavam encarnados, para que pudessem ser reconhecidos.


Não é raro que o espírito quando desencarne sofra ou provoque alterações na sua aparência, ou seja, no seu corpo espiritual. Espíritos que estão em equilíbrio mental e emocional podem se apresentar com uma aparência mais jovem do que tinham quando estavam encarnados, enquanto outros podem inclusive adotar a aparência que tinham em outra encarnação. Por outro lado, espíritos que estão em desequilíbrio podem ter uma aparência muito diferente da que tinham no corpo, pois o corpo espiritual mostra o verdadeiro estado interior do espírito.


- E quanto aos espíritos esquecidos, cujos túmulos não são visitados? Como se sentem?


Isto depende muito do estado do espírito. Muitos já reconhecem que a visita aos túmulos não é fundamental para se sentirem amados. Outros, no entanto, comparecem aos cemitérios na esperança de encontrar alguém que ainda se lembre deles e se entristecem quando se vêem sozinhos.


- A visita ao túmulo traz mais satisfação ao desencarnado do que uma prece feita em sua intenção?


Visitar o túmulo é a exteriorização da lembrança que se tem do espírito querido, é uma forma de manifestar a saudade, o respeito e o carinho. Desde que realizada com boa intenção, sem ser apenas um compromisso social ou protocolar, desde que não se prenda a manifestações de desespero, de cobranças, de acusações, como ocorre em muitas situações, a visitação ao túmulo não é condenável. Apenas é desnecessária, pois a entidade espiritual não se encontra no cemitério, e pode ser lembrada e homenageada através da prece em qualquer lugar. A prece ditada pelo coração, pelo sentimento, santifica a lembrança, e é sempre recebida com prazer e alegria pelo desencarnado.


- No ambiente espiritual dos cemitérios comparecem apenas os espíritos cujos corpos foram lá enterrados?


Não. Segundo as narrativas, o ambiente espiritual dos cemitérios fica bastante tumultuado no chamado Dia de Finados. E isto ocorre por vários motivos. Primeiro, como já dissemos, pela própria quantidade de pessoas que visitam os túmulos. Cada um de nós levamos nossas companhias espirituais, somos acompanhados pelos espíritos familiares. Depois, porque muitos espíritos que estão vagando desocupados e curiosos do plano espiritual também acorrem aos cemitérios, atraídos pelo movimento da multidão, tal como ocorre entre os encarnados. Alguns comparecem respeitosos enquanto outros se entregam à galhofa e à zombaria.

- E existem espíritos que permanecem fixados no ambiente do cemitério depois de sua desencarnação?


Sim, embora esta não seja uma ocorrência comum. Além disso, devemos nos lembrar que nos cemitérios, bem como em qualquer lugar, existem equipes espirituais trabalhando para auxiliar, dentro do possível, os que estão em sofrimento.


- Os espíritos dão alguma importância ao tratamento que é dado ao seu túmulo? As flores, os enfeites, as velas, os mausoléus, influenciam no estado espiritual do desencarnado?


Não. Somente os espíritos ainda muito ligados às manifestações materiais poderiam se importar com o estado do seu túmulo, e mesmos estes, em pouco tempo, percebem a inutilidade, em termos espirituais, de tais arranjos. O carinho com que são cuidados os túmulos só tem algum sentido para os encarnados, que devem se precaver para não criarem um estranho tipo de culto. Não devemos converter as necrópoles vazias em “salas de visita do além”. Há locais mais indicados para nos lembrarmos daqueles que partiram.


- E que tipo de local seria este?


O lar! Nossos entes familiares que já desencarnaram podem ser lembrados na própria intimidade e no aconchego de nosso lar, ao invés da frieza dos cemitérios e catacumbas. Eles sempre preferirão receber nossa mensagem de saudade e carinho envolvida nas vibrações do ambiente familiar. Qualquer que seja a situação espiritual em que eles se encontrem, serão alcançados pelo nosso pensamento. Por isso, devemos nos esforçar para, sempre que lembrarmos deles, que nosso pensamento seja de saudade equilibrada, de desejo de paz e bem-estar, de apoio e afeto, e nunca de desespero, de acusação, de culpa, de remorso.


- Mas a tristeza é natural, não?

Sim, mas não permitamos que a saudade se converta em angústia, em depressão. Usemos os recursos da confiança irrestrita em Deus, da certeza de Sua justiça e sua bondade. Deus é Amor, e onde haja a expressão do amor, a presença divina se faz. Vamos permitir que essa presença acalme nosso coração e tranquilize nosso pensamento, compreendendo que os afetos verdadeiros não são destruídos pela morte física, não são encerrados na sepultura. Dois motivos, portanto, para não cultivarmos a tristeza: sentimos saudades – e não estamos mortos; nossos amados não estão mortos – e sentem saudades...

Se formos capazes de orar, com serenidade e confiança, envolvendo a saudade com a esperança, sentiremos a presença deles entre nós, envolvendo nossos corações em alegria e paz.

Referências:

1. O Livro dos Espíritos - Allan Kardec (Questões 320 a 329).

2. Livro “Quem tem medo da morte?” - Richard Simonetti.

17 comentários:

Lívia Luz disse...

Tudo é natural, quando compreendemos a natureza das coisas.
Um grande abraço

Arcanum disse...

Olá minha grande.

Adorei o texto. Aliás, em qualquer época penso sobre isso. Todos nós sabemos que a data em honra aos falecidos foi criada e estabelecida pela Igreja Católica,juntamente com o dia de todos os santos, para contrapor com o sagrado dia das bruxas.

A Igreja teria como base a veneração que os primeiros cristãos do Século I teriam para com seus mártires, quando os sepultavam nas catacumbas da Via Ápia (entre outras) e lá faziam certamente um ritual, ritual este que deu origem mais tarde quando finalmente a Igreja Cristã foi finalmente legalizada (e um pouco mais tarde oficializada) pelo Império Romano.

Quanto a celebração da memória aos mortos, algumas observações devem ser ditas. Primeiramente, em qualquer momento podemos lembrar os nossos entes queridos e dirigir uma prece por eles, sem precisarmos mesmo de ir ao cemitério, pois isto já fica a critério e opção de cada um. Como cristãos ou não, mas sim mais como filhos do Criador, devemos dirigir uma prece para aqueles que não conhecemos ou mesmo por aqueles que não simpatizaram conosco ao longo de nossa vida.

O Livro dos Espíritos é na minha opinião uma das maiores enciclopédias para quem quer entender e conhecer com profundidade a doutrina espírita, bem como as outras obras de Kardec.

Abraços Norma.

Rosan disse...

Oi Norma.
que postagem magnífica, esplicaste muito bem como a doutrina espírita, encara tudo isso sobre finados, com a ajuda dos livros, deixaste tudo claro, é assim mesmo que estou aprendendo, atravez dos meus estudos...
no momento que nos sintonizamos numa prece sincera, não importa o lugar que estamos, nossos amigos desencarnados receberão a vibração.
obrigada pelo belo esclarecimento.
abraço de luz rosa
Rosan

Vera Costa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vera Costa disse...

Bom seria se aqueles que hoje visitam cemitérios, não esquecessem de seus mortos nos outros dias. Tantos precisam de preces, de orações, de um pensamento elevado. Amanhã seremos nós. Boa leitura essa minha amiga, muito obrigada. Beijos

ONG ALERTA disse...

Basta acreditar em nosso coração ele saberá nos mostrar como agir sempre, paz para todos.

angela disse...

Norma
Muito esclarecedor o seu texto. gostoso de ler.
beijos

Hugo Cheng disse...

Ontem foram eles, amanhã seremos nos.
Que maravilha de texto, muito esclarecedor.
Parabéns pela escolha!
Namaste
Abraços

Hugo Cheng disse...

O dia 02 de novembro foi inventado pela Igreja Católica, como o Dia dos fiéis defuntos, conhecido popularmente por Dia de finados.
Desde o século 1º, os cristãos rezam pelos falecidos; costumavam visitar os túmulos dos mártires nas catacumbas para rezar pelos que morreram sem martírio. No século 4º, já encontramos a Memória dos Mortos na celebração da missa.

Desde o século 5º, a Igreja dedica um dia por ano para rezar por todos os mortos, pelos quais ninguém rezava e dos quais ninguém se lembrava.

Desde o século XI, os Papas Silvestre II (1009), João XVIII (1009) e Leão IX (1015) obrigam a comunidade a dedicar um dia por ano aos mortos.

Desde o século XIII, esse dia anual por todos os mortos é comemorado no dia 2 de novembro, porque no dia 1º de novembro é a festa de "Todos os Santos".

O Dia de Todos os Santos celebra todos os que morreram em estado de graça e não foram canonizados.

O Dia de Todos os Mortos,ou Dia de Finados, celebra todos os que morreram e não são lembrados na oração.

fonte:http://www.velhosamigos.com.br/DatasEspeciais/diafinados.html

Eu li e achei muito interessante, por isso estou postando aqui.
Namaste

Norma Villares disse...

Livia muito obrigada querida pela presença.
Um grande abraço

Norma Villares disse...

Paulo, grata pela presença
Eu também acho que a lembrança, e celebração pelos mortos devam ser feitas em qualquer momento, qualquer dia.
Um prece ajuda muito aos nossos entes queridos, a lembrança é um lenitivo.
Quem não gostaria de ser lembrado?

Um grande abraço

Norma Villares disse...

Rosan, muito grata pela presença.
Pois é, encara tudo com naturalidade, e a sintonia com uma prece é um santo lenitivo.
Abraços de luz

Norma Villares disse...

Vera,muito grata pela presença, fiquei feliz em te ver.
É verdade que comerorasse todos os dias.
Beijos querida amiga, sinto saudade de sua presença.
Um grande abraço

Norma Villares disse...

ONG ALERTA, muito grata pela presença, fiquei feliz em te ver.
É verdade que se acreditamos com nossa eu espiritual, é a mais pura verdade.
Um grande abraço

Norma Villares disse...

Hugo, muito grata pela presença, fiquei feliz em te ver.
Muito obrigada pelas informações, pois é foi a Igreja Católica quem inventou o Dias dos Finados.
Muito, obrigada pelas informações.
Maravilha de texto, muito esclarecedor.

Namaste
Abraços

Viveka disse...

Eu tb acredito. Gostei muito do texto.
Namaste
Bjs

Norma Villares disse...

Obrigada Viveka pela gentileza da visita, eu também acredito.
Beijos