Está sendo bastante comum escutar nas empresas, nas escolas e a imprensa falar de que temos que ser resilientes. E os resilientes são aqueles que são capazes de vencer as dificuldades, os obstáculos, por mais fortes e traumáticos que elas sejam. Pode ser desde um desemprego inesperado, a morte de um parente querido, a separação dos pais, a repetência na escola ou uma catástrofe como um tsunami. Aliás, já se encontram muitos livros abordando o assunto como o Resiliência: descobrindo as próprias fortalezas, organizado por Aldo Melilo e Elbio Nestor Suárez Ojeda. Nesse e noutros livros e artigos encontramos os autores relatando que o conceito de resiliência passou de uma fase de “qualidades pessoais”, até ao conceito mais atual de compreendê-la como um atributo da personalidade desenvolvido no contexto psico-sócio-cultural em que as pessoas estão inseridas. E desde os anos 80 a escola tem sido vista como um desses ambientes, por excelência, para haver o enriquecimento da resiliência.
No Brasil, o assunto da resiliência se torna fundamental quando examinamos o fato de a taxa de crescimento econômico brasileiro – mesmo o país sendo tido como nação emergente – em 1996 ter sido de apenas 2,7%. Em 1997 ela terminou em 3,6% e, no ano seguinte, pifiamente – em apenas 0,12%. Em 1999 se marcou 0,8% e para 2000 houve uma alentadora taxa de 4,2%. Os dados e as projeções elaboradas pelo próprio IBGE para o triênio (2001-2004), nesse tópico e naqueles relacionados ao crescimento da condição econômica e melhora de vida, foram números lamentados por toda a sociedade.
Embora tais realidades estejam presentes no cenário brasileiro, e se fazem presentes no âmbito da resiliência, a pesquisa e a produção científica em torno desse tema, no que concerne à psicologia e à educação, começaram a surgir no Brasil apenas na última década.
No campo da educação temos dois aspectos relacionados. O primeiro diz espeito à resiliência da escola enquanto instituição que reúne diferentes sistemas humanos. O segundo contempla o aspecto particular da pessoa do professor e do aluno. Com relação a esse aspecto, embora seja um tema da subjetividade humana, pesquisadores como Edith Grotberg já disseram que ela é bastante mensurável. Uma vez que é possível compreendê-la como associada às fases do desenvolvimento humano; entendê-la como peculiar quanto ao gênero; não se subordina ao nível sócio-econômico; se difere dos fatores de risco e dos fatores de proteção; se trata de um dos atributos da saúde mental e da boa capacidade de aprender e é um processo que pode ser entendido com seus fatores, comportamentos e resultados resilientes. Por estar relacionada a diversas áreas da subjetividade humana é que ela carece de um alto grau de flexibilidade no curso de uma vida.
Particularmente na educação é possível ter muito mais êxito, se na vida houver flexibilidade de se viver ricamente os vínculos e os afetos que nos rodeiam. A falta de flexibilidade em situações de traumas e sofrimentos é uma das dificuldades para harmonizar um projeto de vida.
A flexibilidade e a riqueza dos vínculos se tornaram objetos de estudos desde os primórdios da pesquisa sobre resiliência. Elas estavam presentes nas próprias palavras de Frederic Flach, ao cunhar o termo em 1966 para o âmbito das ciências humanas, querendo dizer que em face da desintegração psíquico-emocional, uma pessoa necessita descobrir novas formas de lidar com a vida e dessa experiência se reorganizar de maneira eficaz. Segundo Richardson, por exemplo, muito se pode aprender sobre o que seja resiliência, particularmente quando olhamos para uma pessoa e podemos nela verificar a presença de um padrão de comportamento de defesa, seguido de padrões de adaptação e, por fim, da presença de padrões resilientes.
Esses elementos são organizados e os teóricos costumam chamar de Fatores de resiliência. Nós mesmos trabalhamos com uma escala que mensura tais índices. Trata-se do “Questionário do Índice de Resiliência: Adultos - Reivich - Shatté / Barbosa”. A escala mensura sete Fatores que constituem a resiliência: A administração das emoções, descrita como a habilidade de se manter calmo sob pressão. O controle dos impulsos, compreendido como a habilidade de não agir impulsivamente e a capacidade de mediar os impulsos e as emoções. Otimismo, a habilidade de ter a firme convicção de que as situações irão mudar quando envolvidas em adversidades e manter a firme esperança de um futuro melhor. A análise do ambiente, descrita como a habilidade de identificar precisamente as causas dos problemas e adversidades. A empatia, revelando a habilidade de ler os estados emocionais e psicológicos de outras pessoas. Auto-eficácia, como a convicção de ser eficaz nas ações. Alcançar Pessoas, a habilidade de se conectar a outras pessoas para viabilizar soluções para as intempéries da vida.
E, para cada fator constitutivo mensurado com escore “abaixo da média”, interpreta-se como uma área sensível da vida. Quando ocorrerem quatro ou mais fatores como escores “abaixo da média”, compreende-se como uma pessoa em situação de risco. Estes sete fatores foram selecionados por serem concretos e de possível mensuração, podem ser ensinados e melhorados em programas educativos específicos.
E agora, vamos desenvolver resiliência?
Palavras-chave: resiliência; saúde, educação.
Bibliografia:
1. - Barbosa GS. A Dinâmica dos Grupos: num enfoque sistêmico. São Paulo: Robe; 1995.
2. - Barbosa GS. “Questionário do índice de resiliência: Adultos - Reivich - Shatté / Barbosa” [tese]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. 2006.
3. - Flach F. Resiliência: a arte de ser flexível. Traduzido por Wladir D. São Paulo: Saraiva. 1991.
4. - Richardson GE. The metatheory of resilience and resiliency. J Clin Psychol. 2002;58(3):307-321.
5. - Melilo A., Nestor E., Ojeda S. Resiliência: descobrindo as próprias fortalezas. Porto Alegre: Pioneira Editora. 2006.
Texto escrito por George Souza Barbosa é psicólogo e educador.
(http://www.eca.usp.br/njr/voxscientiae/george_barbosa_38.htm)
10 comentários:
Belo post....até o começo do ano fiz alguns trabalhos com este tema e em processo seletivo esta sendo bem usado no entanto discarta algumas possibilidades dos que obtem muita experiência profissional mas como o tempo e termo é renovar também...Conceitos.
Eu recebi este texto e fiquei encantada. Vivendo e aprendendo. Acho que nós brasileiros, somos resilientes. Abraços
Este texto é muito bom, eu também recebi um email com ele. Tanta coisa pra aprender. Namaste
Ótimo texto, fez uma boa escolha.
beijos
A capacidade de enfretar e vencer as dificuldades. Pois é, acredito que osa brasileiros realmente são resilientes. Obrigada pelos comentários
O nosso povo realmente tem esta capacidade de ser resiliente. Beijo no core
Eu também acho Vania. Obrigada
Olá, Norma!
Deixei um comentário no outro blog teu por descuido, mas desde já agradeço por ires conhecer meu canto.
Amei o teu e tenho certeza que aprenderei muito contigo, pois virei sempre aqui.
Imenso abraço, porque quem abraça sempre leva um pedacinho do outro consigo...
Obrigada Malu, vou lá ver seu blog. Muito obrigada pelo visuta. Aprenderemos juntas. Abraços
Olá Norma, seja bem vinda e obg por agora tbém fazer parte do meu caminhar, resiliencia, saber lidar com as adversidades que se apresntam em várias etapas de nossas vidas, tema mais q constante ....gostei muito!
Uma semana cheia de energias psotivias pra ti.bjss♥
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