COMO NASRUDDIN CRIOU A VERDADE
Em dada ocasião, um rei chamou Nasrudin para se consolar:
- Ah, Mullá, estou triste. Meu povo anda mentindo demais, não sei mais o que fazer. O que posso fazer quando o povo me falta com a verdade.
- Acontece, Rei - respondeu Nasrudin - que nem sempre é fácil diferenciar a verdade da mentira.
- Mas é claro que é, Mullá - retrucou o rei - a verdade impele ao bem, enquanto a mentira só visa enganar...
- Essa é a teoria, mas é preciso que todos saibam na prática o que é mentira e o que é verdade...
- As leis não fazem que as pessoas fiquem melhores - disse Nasrudin ao Rei. - Elas precisam, antes, praticar certas coisas de maneira a entrar em sintonia com a verdade interior, que se assemelha apenas levemente à verdade aparente.
O Rei, no entanto, decidiu que ele poderia, sim, fazer que as pessoas observassem a verdade, que poderia fazê-las observar a autenticidade — e assim o faria.
O acesso a sua cidade dava-se através de uma ponte. Sobre ela, o Rei ordenou que fosse construída uma forca.
Quando os portões foram abertos, na alvorada do dia seguinte, o Chefe da Guarda estava a postos em frente de um pelotão para testar todos os que por ali passassem. Um edital fora imediatamente publicado:
“Todos serão interrogados. Aquele que falar a verdade terá seu ingresso na cidade permitido. Caso minta, será enforcado.”
Nasrudin, na ponte entre alguns populares, deu um passo à frente e começou a cruzar a ponte.
— Aonde o senhor pensa que vai? — perguntou o Chefe da Guarda.
— Estou a caminho da forca — respondeu Nasrudin, calmamente.
— Não acredito no que está dizendo!
— Muito bem, se eu estiver mentindo, pode me enforcar.
— Mas se o enforcarmos por mentir, faremos que aquilo que disse seja verdade!
— Isso mesmo — respondeu Nasrudin, sentindo-se vitorioso. — Agora vocês já sabem o que é verdade: é apenas a sua verdade.
O ANÚNCIO
Nasrudin postou-se na praça do mercado e dirigiu-se à multidão:
"Ó povo deste lugar! Querem conhecimento sem dificuldade, verdade sem falsidade, realização sem esforço, progresso sem sacrifício?"
Logo juntou-se um grande número de pessoas, com todo mundo gritando: "Queremos, queremos!"
"Excelente!", disse o Mullá. "Era só para saber. Podem confiar em mim, que lhes contarei tudo a respeito, caso algum dia descubra algo assim."
O BARCO E O HOMEM LETRADO
Em dada ocasião, Nasrudin estava em um barco com um homem letrado, quando o Mullá disse algo que contrariava as regras gramaticais:
-Você nunca estudou gramática? - perguntou o estudioso.
-Não, nunca - respondeu Nasrudin.
-Nesse caso, metade de sua vida se perdeu - retrucou outro.
Nasrudin ficou em silêncio durante algum tempo, quando finalmente falou:
-Você nunca aprendeu a nadar? - disse o Mullá ao homem letrado.
-Não, nunca - este respondeu.
-Então, nesse caso, toda a sua vida se perdeu. Estamos afundando.
Quem teve tempo de realizar esta prática, irá compreender perfeitamente esta interessante fábula sufi:
A FANTASIA
Nasrudin está caminhando, quando alguém o cumprimenta.
- Que tal? - pergunta Nasrudin. - Gostou da minha fantasia?
- Fantasia? - diz o recém-chegado. - Você está igual!
- Não estou igual. Estou disfarçado.
- Disfarçado de que? De você mesmo?
- Exatamente! O disfarce é tão bom, que você nem percebeu!
SAÚDE PARA VENDER
“Eu tenho saúde para dar e vender”, disseram a Mullá Nasrudin. “Então me dê um dos seus rins que eu vendo”, respondeu o Mullá.
A BUSCA DA VERDADE ABSOLUTA
Estava Nasrudin junto a seu Mestre, aprimorando os conhecimentos da alma, na busca da verdade absoluta. Eis que um dia Nasrudin, com seu espírito brincalhão, acabou por infringir os códigos de humildade e simplicidade inerentes ao comportamento dos discípulos. Para que o mulá se apercebesse da gravidade de seu erro, o Mestre transformou Nasrudin num porco, ordenando-lhe que vivesse por um ano no chiqueiro, junto aos outros animais. Perdida a forma humana, mas não a irreverência e a leveza de espírito, Nasrudin facilmente se ambientou e, em poucas horas, se esqueceu completamente da sua origem. Chafurdando alegremente na lama não tardou, com sua contagiante simpatia, a conquistar uma bela e redonda porquinha, que em pouco tempo, deu à luz uma ninhada de filhotinhos gordinhos e saudáveis. Desatento e desligado do tempo, Nasrudin acostumou-se ao chiqueiro e à limitada perspectiva de sua vida suína.
Um ano se passou, e terminado o prazo do castigo, veio o Mestre buscar Nasrudin para devolvê-lo ao convívio dos discípulos:
- Nasrudin, ó Nasrudin!
Abandona essa vida de porco, já que não és porco, mas sim humano, um discípulo que busca a iluminação!
Volte para junto dos seus!
- Quem, eu? - respondeu Nasrudin – Não senhor. O Mestre se engana, nasci assim, sempre fui porco, e esse mar de lama é a única pátria que conheci. Apresento a minha linda porquinha e nossos filhotinhos! Se aqui deixou o Mestre algum discípulo, certamente deve ser outro porco, não eu. Sou feliz, não quero partir.
Nasrudin se esquecera, completamente, da verdadeira identidade, e não foi pouco o esforço despendido pelo Mestre para convencê-lo a abandonar o cenário passageiro de sua punição.
De volta ao eu humano, consciente da graça divina de pertencer, Nasrudin incorporou para sempre os ensinamentos e riquezas da verdadeira humildade."
NASRUDIN E O VARAL
Um vizinho bateu à porta do Nasrudin e pediu:
- Nasrudin, você me empresta o varal de secar roupa que o de lá de casa se quebrou?
- Um momento, disse Nasrudin - vou perguntar à minha mulher.
Momentos depois Nasrudin voltou e disse para o vizinho
- Desculpe vizinho, mas não vou poder emprestar o varal pois minha mulher está secando farinha nele.
O vizinho, surpreso, exclamou:
- Mas Nasrudin, secando farinha no varal??!!
E Nasrudin respondeu:
É... quando não se quer emprestar o varal, até farinha se seca nele...
O SERMÃO DE NASRUDIN
Certo dia, os moradores do vilarejo quiseram pregar uma peça em Nasrudin. Já que era considerado uma espécie meio indefinível de homem santo, pediram-lhe para fazer um sermão na mesquita.
Ele concordou.
Chegado o tal dia, Nasrudin subiu ao púlpito e falou:
"Ó fiéis! Sabem o que vou lhes dizer?"
"Não, não sabemos", responderam em uníssono.
"Enquanto não saibam, não poderei falar nada. Gente muito ignorante, isso é o que vocês são. Assim não dá para começarmos o que quer que seja", disse o Mullá, profundamente indignado por aquele povo ignorante fazê-lo perder seu tempo.
Desceu do púlpito e foi para casa.
Um tanto vexados, seguiram em comissão para, mais uma vez, pedir a Nasrudin fazer um sermão na Sexta-feira seguinte, dia de oração.
Nasrudin começou a pregação com a mesma pergunta de antes.
Desta vez, a congregação respondeu numa única voz:
"Sim, sabemos".
"Neste caso", disse o Mullá, "não há porque prendê-los aqui por mais tempo. Podem ir embora." E voltou para casa.
Por fim, conseguiram persuadi-lo a realizar o sermão da Sexta-feira seguinte, que começou com a mesma pergunta de antes.
"Sabem ou não sabem?"
A congregação estava preparada.
"Alguns sabem, outros não."
"Excelente", disse Nasrudin, "então, aqueles que sabem transmitam seus conhecimento para àqueles que não sabem."
E foi para casa.
O JUMENTO MORRE DE CANSAÇO
Nasrudin resolveu procurar novas técnicas de meditação. Selou seu jumento, foi a Índia, a China, a Mongolia, conversou com todos os grandes mestres, mas nada conseguiu.
Escutou falar que havia um sábio no Nepal: viajou até lá, mas quando subia a montanha para encontra-lo, seu jumento morreu de cansaço. Nasrudin enterrou-o ali mesmo, e chorou de tristeza. Alguém passou, e comentou:
- Você buscava um santo, e este deve ser seu túmulo. Na certa, está lamentando sua morte.
- Não, é o lugar onde enterrei meu jumento, que morreu de cansaço.
- Não acredito - disse o recém-chegado. - Ninguém chora por um jumento morto. Isso deve ser um lugar onde os milagres acontecem, e você quer guarda-lo só para si mesmo.
Por mais que Nasrudin argumentasse, não adiantou. O homem foi até a aldeia vizinha, espalhou a história de um grande mestre que realizava curas em seu túmulo, e logo os peregrinos começaram a chegar.
Aos poucos, a notícia da descoberta do Sábio do Luto Silencioso se espalhou por todo o Nepal - e multidões acorreram ao lugar. Um homem rico foi até ali, achou que tinha sido recompensado, e mandou construir um imponente monumento onde Nasrudin enterrara ´seu mestre´.
Em vista disto, Nasrudin resolveu deixar as coisas como estavam. Mas aprendeu de uma vez por todas que, quando alguém quer acreditar numa mentira, ninguém lhe convencerá ao contrário.
MEU OLHO DÓI!
Um camponês aproximou-se de Nasrudin e queixando-se de que seu olho doía, pediu-lhe um conselho.
Então Hodja disse-lhe:
- Outro dia meu molar doía, e não me acalmei enquanto não o arranquei.
SOBRE OS GURUS
Um famoso guru do povoado pretendia ser capaz de ensinar uma pessoa analfabeta a ler mediante uma técnica relâmpago.
Nasrudin saiu do meio do povo.
— Pois bem, me ensine então.
O guru tocou a testa de Hodja e disse:
— Agora vá imediatamente para sua casa e leia um livro.
Passada meia hora, Nasrudin voltou à praça do mercado com um livro nas mãos. O guru já tinha ido embora.
— E então, você é capaz de ler agora, Hodja? — perguntaram-lhe as pessoas.
— Sim, posso ler, mas este não é o caso. Onde está aquele charlatão?
— Como pode ser um charlatão se fez com que você conseguisse ler sem nenhum aprendizado?
Este livro, que provém de autoridades indiscutíveis, diz:
“Todos os gurus são uma verdadeira fraude”.
A FELICIDADE NÃO ESTÁ ONDE SE PROCURA
Nasrudin encontrou um homem desconsolado sentado à beira do caminho e perguntou-lhe os motivos de tanta aflição.
"Não há nada na vida que interesse, irmão", disse o homem. "Tenho dinheiro suficiente para não precisar trabalhar e estou nesta viagem só para procurar algo mais interessante do que a vida que levo em casa. Até agora, eu nada encontrei."
Sem mais palavra, Nasrudin arrancou-lhe a mochila e fugiu com ela estrada abaixo, correndo feito uma lebre. Como conhecia a região, foi capaz de tomar uma boa distância.
A estrada fazia uma curva e Nasrudin foi cortando o caminho por vários atalhos, até que retornou à mesma estrada, muito à frente do homem que havia roubado. Colocou a mochila bem do lado da estrada e escondeu-se à espera do outro.
Logo apareceu o miserável viajante, caminhando pela estrada tortuosa, mais infeliz do que nunca pela perda da mochila. Assim que viu sua propriedade bem ali, à mão, correu para pegá-la, dando gritos de alegria.
"Essa é uma maneira de se produzir felicidade", disse Nasrudin.
EM VISITA A ÍNDIA
O célebre e contraditório personagem sufi Mulla Nasrudin visitou a Índia. Chegou a Calcutá e começou a passear por uma de suas movimentadas ruas. De repente viu um homem que estava vendendo o que Nasrudin acreditou que eram doces, ainda que na realidade fossem chiles apimentados. Nasrudin era muito guloso e comprou uma grande quantidade dos supostos doces, dispondo-se a dar-se um grand banquete. Estava muito contente, se sentou em um parque e começou a comer chiles a dentadas.Logo que mordeu o primeiro dos chiles sentiu fogo no paladar. Eram tão apimentados aqueles "doces" que ficou com a ponta do nariz vermelha e começou a soltar lágrimas até os pés. Não obstante, Nasrudin continuava levando os chiles à boca sem parar. Espirrava, chorava, fazia caretas de mal estar, mas seguia devorando os chiles. Assombrado, um passante se aproximou e disse-lhe:
- Amigo, não sabe que os chiles só se comem em pequenas quantidades?
Quase sem poder falar, Nasrudin comentou:
- Bom homem, creia-me, eu pensava que estava comprando doces.
Mas Nasrudin seguia comendo chiles. O passante disse:
- Bom, está bem, mas agora já sabes que não são doces. Por que segues comendo-os?
Entre tosses e soluços, Nasrudin disse:
- Já que investi neles meu dinheiro, não vou jogá-los fora.
O Grande Mestre disse: Não sejas como Nasrudin. Toma o melhor para tua evolução interior e joga fora o desnecessário ou pernicioso, mesmo que tenhas investido muito dinheiro ou tempo neles.
O Rei, no entanto, decidiu que ele poderia, sim, fazer que as pessoas observassem a verdade, que poderia fazê-las observar a autenticidade — e assim o faria.
O acesso a sua cidade dava-se através de uma ponte. Sobre ela, o Rei ordenou que fosse construída uma forca.
Quando os portões foram abertos, na alvorada do dia seguinte, o Chefe da Guarda estava a postos em frente de um pelotão para testar todos os que por ali passassem. Um edital fora imediatamente publicado:
“Todos serão interrogados. Aquele que falar a verdade terá seu ingresso na cidade permitido. Caso minta, será enforcado.”
Nasrudin, na ponte entre alguns populares, deu um passo à frente e começou a cruzar a ponte.
— Aonde o senhor pensa que vai? — perguntou o Chefe da Guarda.
— Estou a caminho da forca — respondeu Nasrudin, calmamente.
— Não acredito no que está dizendo!
— Muito bem, se eu estiver mentindo, pode me enforcar.
— Mas se o enforcarmos por mentir, faremos que aquilo que disse seja verdade!
— Isso mesmo — respondeu Nasrudin, sentindo-se vitorioso. — Agora vocês já sabem o que é verdade: é apenas a sua verdade.
O ANÚNCIO
Nasrudin postou-se na praça do mercado e dirigiu-se à multidão:
"Ó povo deste lugar! Querem conhecimento sem dificuldade, verdade sem falsidade, realização sem esforço, progresso sem sacrifício?"
Logo juntou-se um grande número de pessoas, com todo mundo gritando: "Queremos, queremos!"
"Excelente!", disse o Mullá. "Era só para saber. Podem confiar em mim, que lhes contarei tudo a respeito, caso algum dia descubra algo assim."
O BARCO E O HOMEM LETRADO
Em dada ocasião, Nasrudin estava em um barco com um homem letrado, quando o Mullá disse algo que contrariava as regras gramaticais:
-Você nunca estudou gramática? - perguntou o estudioso.
-Não, nunca - respondeu Nasrudin.
-Nesse caso, metade de sua vida se perdeu - retrucou outro.
Nasrudin ficou em silêncio durante algum tempo, quando finalmente falou:
-Você nunca aprendeu a nadar? - disse o Mullá ao homem letrado.
-Não, nunca - este respondeu.
-Então, nesse caso, toda a sua vida se perdeu. Estamos afundando.
Quem teve tempo de realizar esta prática, irá compreender perfeitamente esta interessante fábula sufi:
A FANTASIA
Nasrudin está caminhando, quando alguém o cumprimenta.
- Que tal? - pergunta Nasrudin. - Gostou da minha fantasia?
- Fantasia? - diz o recém-chegado. - Você está igual!
- Não estou igual. Estou disfarçado.
- Disfarçado de que? De você mesmo?
- Exatamente! O disfarce é tão bom, que você nem percebeu!
SAÚDE PARA VENDER
“Eu tenho saúde para dar e vender”, disseram a Mullá Nasrudin. “Então me dê um dos seus rins que eu vendo”, respondeu o Mullá.
A BUSCA DA VERDADE ABSOLUTA
Estava Nasrudin junto a seu Mestre, aprimorando os conhecimentos da alma, na busca da verdade absoluta. Eis que um dia Nasrudin, com seu espírito brincalhão, acabou por infringir os códigos de humildade e simplicidade inerentes ao comportamento dos discípulos. Para que o mulá se apercebesse da gravidade de seu erro, o Mestre transformou Nasrudin num porco, ordenando-lhe que vivesse por um ano no chiqueiro, junto aos outros animais. Perdida a forma humana, mas não a irreverência e a leveza de espírito, Nasrudin facilmente se ambientou e, em poucas horas, se esqueceu completamente da sua origem. Chafurdando alegremente na lama não tardou, com sua contagiante simpatia, a conquistar uma bela e redonda porquinha, que em pouco tempo, deu à luz uma ninhada de filhotinhos gordinhos e saudáveis. Desatento e desligado do tempo, Nasrudin acostumou-se ao chiqueiro e à limitada perspectiva de sua vida suína.
Um ano se passou, e terminado o prazo do castigo, veio o Mestre buscar Nasrudin para devolvê-lo ao convívio dos discípulos:
- Nasrudin, ó Nasrudin!
Abandona essa vida de porco, já que não és porco, mas sim humano, um discípulo que busca a iluminação!
Volte para junto dos seus!
- Quem, eu? - respondeu Nasrudin – Não senhor. O Mestre se engana, nasci assim, sempre fui porco, e esse mar de lama é a única pátria que conheci. Apresento a minha linda porquinha e nossos filhotinhos! Se aqui deixou o Mestre algum discípulo, certamente deve ser outro porco, não eu. Sou feliz, não quero partir.
Nasrudin se esquecera, completamente, da verdadeira identidade, e não foi pouco o esforço despendido pelo Mestre para convencê-lo a abandonar o cenário passageiro de sua punição.
De volta ao eu humano, consciente da graça divina de pertencer, Nasrudin incorporou para sempre os ensinamentos e riquezas da verdadeira humildade."
NASRUDIN E O VARAL
Um vizinho bateu à porta do Nasrudin e pediu:
- Nasrudin, você me empresta o varal de secar roupa que o de lá de casa se quebrou?
- Um momento, disse Nasrudin - vou perguntar à minha mulher.
Momentos depois Nasrudin voltou e disse para o vizinho
- Desculpe vizinho, mas não vou poder emprestar o varal pois minha mulher está secando farinha nele.
O vizinho, surpreso, exclamou:
- Mas Nasrudin, secando farinha no varal??!!
E Nasrudin respondeu:
É... quando não se quer emprestar o varal, até farinha se seca nele...
O SERMÃO DE NASRUDIN
Certo dia, os moradores do vilarejo quiseram pregar uma peça em Nasrudin. Já que era considerado uma espécie meio indefinível de homem santo, pediram-lhe para fazer um sermão na mesquita.
Ele concordou.
Chegado o tal dia, Nasrudin subiu ao púlpito e falou:
"Ó fiéis! Sabem o que vou lhes dizer?"
"Não, não sabemos", responderam em uníssono.
"Enquanto não saibam, não poderei falar nada. Gente muito ignorante, isso é o que vocês são. Assim não dá para começarmos o que quer que seja", disse o Mullá, profundamente indignado por aquele povo ignorante fazê-lo perder seu tempo.
Desceu do púlpito e foi para casa.
Um tanto vexados, seguiram em comissão para, mais uma vez, pedir a Nasrudin fazer um sermão na Sexta-feira seguinte, dia de oração.
Nasrudin começou a pregação com a mesma pergunta de antes.
Desta vez, a congregação respondeu numa única voz:
"Sim, sabemos".
"Neste caso", disse o Mullá, "não há porque prendê-los aqui por mais tempo. Podem ir embora." E voltou para casa.
Por fim, conseguiram persuadi-lo a realizar o sermão da Sexta-feira seguinte, que começou com a mesma pergunta de antes.
"Sabem ou não sabem?"
A congregação estava preparada.
"Alguns sabem, outros não."
"Excelente", disse Nasrudin, "então, aqueles que sabem transmitam seus conhecimento para àqueles que não sabem."
E foi para casa.
O JUMENTO MORRE DE CANSAÇO
Nasrudin resolveu procurar novas técnicas de meditação. Selou seu jumento, foi a Índia, a China, a Mongolia, conversou com todos os grandes mestres, mas nada conseguiu.
Escutou falar que havia um sábio no Nepal: viajou até lá, mas quando subia a montanha para encontra-lo, seu jumento morreu de cansaço. Nasrudin enterrou-o ali mesmo, e chorou de tristeza. Alguém passou, e comentou:
- Você buscava um santo, e este deve ser seu túmulo. Na certa, está lamentando sua morte.
- Não, é o lugar onde enterrei meu jumento, que morreu de cansaço.
- Não acredito - disse o recém-chegado. - Ninguém chora por um jumento morto. Isso deve ser um lugar onde os milagres acontecem, e você quer guarda-lo só para si mesmo.
Por mais que Nasrudin argumentasse, não adiantou. O homem foi até a aldeia vizinha, espalhou a história de um grande mestre que realizava curas em seu túmulo, e logo os peregrinos começaram a chegar.
Aos poucos, a notícia da descoberta do Sábio do Luto Silencioso se espalhou por todo o Nepal - e multidões acorreram ao lugar. Um homem rico foi até ali, achou que tinha sido recompensado, e mandou construir um imponente monumento onde Nasrudin enterrara ´seu mestre´.
Em vista disto, Nasrudin resolveu deixar as coisas como estavam. Mas aprendeu de uma vez por todas que, quando alguém quer acreditar numa mentira, ninguém lhe convencerá ao contrário.
MEU OLHO DÓI!
Um camponês aproximou-se de Nasrudin e queixando-se de que seu olho doía, pediu-lhe um conselho.
Então Hodja disse-lhe:
- Outro dia meu molar doía, e não me acalmei enquanto não o arranquei.
SOBRE OS GURUS
Um famoso guru do povoado pretendia ser capaz de ensinar uma pessoa analfabeta a ler mediante uma técnica relâmpago.
Nasrudin saiu do meio do povo.
— Pois bem, me ensine então.
O guru tocou a testa de Hodja e disse:
— Agora vá imediatamente para sua casa e leia um livro.
Passada meia hora, Nasrudin voltou à praça do mercado com um livro nas mãos. O guru já tinha ido embora.
— E então, você é capaz de ler agora, Hodja? — perguntaram-lhe as pessoas.
— Sim, posso ler, mas este não é o caso. Onde está aquele charlatão?
— Como pode ser um charlatão se fez com que você conseguisse ler sem nenhum aprendizado?
Este livro, que provém de autoridades indiscutíveis, diz:
“Todos os gurus são uma verdadeira fraude”.
A FELICIDADE NÃO ESTÁ ONDE SE PROCURA
Nasrudin encontrou um homem desconsolado sentado à beira do caminho e perguntou-lhe os motivos de tanta aflição.
"Não há nada na vida que interesse, irmão", disse o homem. "Tenho dinheiro suficiente para não precisar trabalhar e estou nesta viagem só para procurar algo mais interessante do que a vida que levo em casa. Até agora, eu nada encontrei."
Sem mais palavra, Nasrudin arrancou-lhe a mochila e fugiu com ela estrada abaixo, correndo feito uma lebre. Como conhecia a região, foi capaz de tomar uma boa distância.
A estrada fazia uma curva e Nasrudin foi cortando o caminho por vários atalhos, até que retornou à mesma estrada, muito à frente do homem que havia roubado. Colocou a mochila bem do lado da estrada e escondeu-se à espera do outro.
Logo apareceu o miserável viajante, caminhando pela estrada tortuosa, mais infeliz do que nunca pela perda da mochila. Assim que viu sua propriedade bem ali, à mão, correu para pegá-la, dando gritos de alegria.
"Essa é uma maneira de se produzir felicidade", disse Nasrudin.
EM VISITA A ÍNDIA
O célebre e contraditório personagem sufi Mulla Nasrudin visitou a Índia. Chegou a Calcutá e começou a passear por uma de suas movimentadas ruas. De repente viu um homem que estava vendendo o que Nasrudin acreditou que eram doces, ainda que na realidade fossem chiles apimentados. Nasrudin era muito guloso e comprou uma grande quantidade dos supostos doces, dispondo-se a dar-se um grand banquete. Estava muito contente, se sentou em um parque e começou a comer chiles a dentadas.Logo que mordeu o primeiro dos chiles sentiu fogo no paladar. Eram tão apimentados aqueles "doces" que ficou com a ponta do nariz vermelha e começou a soltar lágrimas até os pés. Não obstante, Nasrudin continuava levando os chiles à boca sem parar. Espirrava, chorava, fazia caretas de mal estar, mas seguia devorando os chiles. Assombrado, um passante se aproximou e disse-lhe:
- Amigo, não sabe que os chiles só se comem em pequenas quantidades?
Quase sem poder falar, Nasrudin comentou:
- Bom homem, creia-me, eu pensava que estava comprando doces.
Mas Nasrudin seguia comendo chiles. O passante disse:
- Bom, está bem, mas agora já sabes que não são doces. Por que segues comendo-os?
Entre tosses e soluços, Nasrudin disse:
- Já que investi neles meu dinheiro, não vou jogá-los fora.
O Grande Mestre disse: Não sejas como Nasrudin. Toma o melhor para tua evolução interior e joga fora o desnecessário ou pernicioso, mesmo que tenhas investido muito dinheiro ou tempo neles.
5 comentários:
Norma, eu conheci Nasruddin através de Osho, eu li todas histórias e dei muitas risadas. Mas a que mais gostei foi da Verdade. Muito boa. Bijus
Bela forma de encontrar a felicidade ! É bom aliar sentido de humor a ensinamentos (koans), desperta o lado sarcástico da vida, este Mulla N.era mesmo um santo imcompetente, abraços.
Talvez diante dos olhos dos homens. Quem sabe diante do humano. Abraços
Sempre leio Nasruddin, ele é sempre atual. Beijokas
Interessantíssimas lendas. Sou educador e acho fundamental que se valorize lendas que agregam valores morais e de sabedoria para crianças, jovens e adultos. O personagem é fenomenal e as histórias são incríveis. Gostei bastante da lenda O SERMÃO DE NASRUDIN.
Além das lendas conterem um acervo cultural muito grande, elas também são ótimas metodologias pedagógicas e didáticas. Precisamos que mais lendas assim sejam valorizadas como metodologias de ensino.
Parabéns pelas postagens e sucesso para vocês!
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