TRATANDO O HANGOVER
DAS VIDAS PASSADAS
por Hans Wofgang TenDam
Tradução:Edison FlávioMartins
Publicado
no
Journal of Regression Therapy, Vol.IV, Nr.2, Outubro de 1990
Ao regredir às causas de problemas psicológicos e
psicossomáticos, às vezes encontramos circunstâncias adversas crônicas, mais que
traumas específicos. Hans TenDam concluiu baseado em sua própria prática, que
estes casos necessitam um tratamento um tanto diferente para aliviar as
circunstâncias adversas e que reviver estas condições pode de fato piorar os
sintomas. Este artigo diferencia "hangovers" de "traumas", apresentando algumas
introspecções gerais em hangovers e um método de tratá-los. Para ilustrar,
apresenta um relato de caso.
Em
terapia regressiva procuramos uma experiência não assimilada que repercute na
vida presente. Estas experiências geralmente são chamadas de "traumas". Mas
aquela etiqueta não se ajusta inteiramente em certas repercussões que vi em
minha prática: obsessões, pseudo-obsessões, alienação, postulados de caráter
(programas rígidos, freqüentemente sistemas de convicção, normalmente
expressados em frases ou palavras-chave) e isso que eu chamo de "hangovers" –
cada um dos quais pedindo um tratamento diferente. Pretendo neste artigo
discorrer sobre hangovers.
Um trauma
tem um começo e um final específicos. É um episódio preciso carregado de emoções
negativas no qual o ego colapsa. O hangover origina-se de uma situação que
causou um tipo mais geral de adversidade. O ego está apagado comprimido e
diminuído, como um bonsai. Torna-se estagnado por um cansaço prolongado,
pressão, desesperança e depressão. Medo, raiva e pesar intensos, emoções agudas,
enfado, cansaço e depressão são emoções crônicas e difusas. Eles não produzem um
trauma, uma ferida, mas uma ressaca, um peso morto, uma "saia suja", um “hangover”.
Hangovers
crescem gradualmente. Eles têm causas crônicas, não agudas. É como se você fosse
invadido por uma névoa ou friccionado por uma poeira suja – ou por algo pegajoso
ou enlodado. Um exemplo: Chego em casa do trabalho. Estou cansado e irritável.
Preciso de um momento para me restabelecer com um livro em minhas mãos, um gato
no meu colo, uma xícara de café ou um pouco de música. Em outras palavras, eu
estou com uma ressaca. Pode ser relacionada a tagarelice em meu escritório,
minha cadeira incômoda, o cheiro no corredor, ou qualquer combinação destes. Ou
pode ser puro enfado e um desgosto por meu trabalho.
O hangover me agarra e eu gosto de sujeira mental. Pode dissolver-se, mas
lentamente ou até mesmo pode crescer tornando-se mais espesso. Sou tão apático
que já não me regenero, o processo se reforça. Posso sonhar com isto e posso
despertar me sentindo pesado. Ou posso decidir deixar meu trabalho, e aquela
decisão me alegra. Eu volto ao meu escritório assobiando. E justamente porque
não me preocupo mais, tudo parece ficar melhor.
Um hangover pode surgir de um sofrimento perpétuo do ego. Uma vida de escravo, por
exemplo, encontra um desafio demasiado pesado para tentar reagir. Apesar das
oportunidades, falta a energia para escapar, ou mesmo para pensar nisto. Enfado
e cinismo podem corroer a energia. Uma atitude cínica deriva-se freqüentemente
de uma vida precedente como uma pessoa inteligente e poderosa. É uma defesa
contra a possibilidade de ser esmagado pelo peso de um mundo imperfeito.
Entretanto, quando nós pudermos olhar para o nosso próprio cinismo com alguma
ironia, a rigidez poderá ser limitada.
Descobri
a diferença entre traumas e hangovers com pacientes que não respondiam às
técnicas habituais para se tratar traumas. Mas a distinção parece não ter sido
apreciada na literatura sobre terapia de regressão. Uma exceção é Brian Weiss
que escreveu "Muitas Vidas Muitos Mestres".
O que eu ainda não havia percebido completamente era
o efeito constante no dia-em-dia de influências, como críticas aparentemente
amargas, podiam causar um trauma psicológico até mesmo mais que um único evento
traumático. Estas influências prejudiciais, pelo fato de se diluírem no
cotidiano de nossas vidas, são até mesmo mais difíceis de se lembrar e
exorcizar.
As cargas
básicas na maioria dos traumas são dor e medo. No hangover geralmente, as cargas
básicas são compulsão, repulsa, impotência e cansaço. Sentimo-nos sem saída,
rebaixados, pequenos, lentos, pesados e sombrios.
Aqui
estão as situações mais comuns que produzem hangovers e suas cargas:
SITUACÕES
Abandono – Dever – Sensação de vazio interior – Esgotamento – Aspereza –
Encarceramento – Isolamento – Solidão Monotonia – Mentalidade estreita –
Obstrução – Pressão – Rejeição – Repressão
|
CARGAS EMOCIONAIS
Enfado – Depressão – Decepção – Descontentamento – Irritação –
Indiferença – Melancolia – Obstinação – Passividade – Rebeldia – Repulsa –
Infelicidade – Vazio
|
CARGAS
SOMÁTICAS
Deformidade – Inquietação – Feiúra – Cansaço
CARGAS INTELECTUAIS
Cinismo – Desconfiança – Dúvida – Ignorância –
Incapacidade – Incompreensão – Insegurança – Suspeita
|
Entre as maneiras naturais de se restabelecer
de um hangover normal (uma ressaca) do dia a dia estão: relaxamento, fazer
caminhada ou corrida, dormir e sonhar, ou fazendo qualquer outra coisa que
realmente gostamos de fazer. Hangovers que nos interessam como terapeutas são
aqueles que normalmente não são curados através destas atividades comuns. São os
hangovers de vidas passadas.
Uma boa morte é a maior catarse. E parte de uma boa morte se consegue
libertando-se de um corpo estropiado. Todos nós temos um pouco de hangover,
simplesmente de viver em um corpo em um mundo físico que sofre doenças, tem
fome, cansaço, restrições e dor - um mundo que põe um peso em nossa mente, um
calo em nossa alma. O corpo nos dá muito, mas a maioria sente-se bem sem ele. O
hangover do estado encarnado é especialmente forte se nós ficamos velhos e
cansados depois de uma vida de labuta.
Poucas coisas nos revigoram como um bom sono, e nada como uma boa morte. Mas da
mesma maneira que nós às vezes despertamos sentindo-nos quebrados pela manhã, às
vezes entramos em uma nova vida com muitas coisas da vida anterior pesando sobre
nós. Isto é o hangover, gradualmente introduzindo aquela vida passada. Podemos
despertar com o peso da vida passada em nossa nova vida. Sentimo-nos com baixa
energia. A carga de muitos hangovers é impotência, e o que geralmente dispara a
impotência é o rancor. Nutrindo rancor, permanecemos vivendo como vítimas, de
forma que podemos nos envolver em auto-piedade e então não precisamos mudar
nosso comportamento.
Eu diria ao terapeuta que lida com hangover: Aprofunde-se em tudo que estiver
mais presente, imediatamente disponível com o paciente. Se há muitos problemas,
muitas cargas negativas, sem destaque para nenhuma delas, então pegue primeiro
aquelas que não apresentem um trauma evidente e que não são ancorados em
“postulados de caráter”. Postulados de caráter aparecem repetidamente de vida
para vida, normalmente em um de cinco papéis: vítima, perseguidor, salvador,
observador neutro e queixoso.
A ordem mais natural de tratamento é: trauma simples, hangovers simples e
postulados de caráter. Mas escolha a ordem que tenha mais energia. Às vezes
temos que eliminar o hangover para que um trauma possa ser solucionado. Se nos
sentimos cansados e vazios por muito tempo, nossa capacidade para sofrer emoções
profundas, até mesmo sentir os ferimentos é esvaziada. Nós ficamos mecanizados e
bolorentos. Então até mesmo uma regressão eficiente para uma situação traumática
não produzirá nenhuma catarse, porque o trauma é embutido em uma camada de
sujeira espessa, tediosa.
Um cliente regrediu a uma vida em que era uma mulher alemã no século 13. Quando
as pessoas descobrem que ela está grávida, batem nela com varas, uma situação
claramente traumática. Ela experimenta uma sensação de entorpecimento no corpo
todo. Ela sempre vivera sob muita pressão, sempre precisando disfarçar seus
sentimentos e sempre ameaçada de castigo por outras pessoas ou pela igreja.
Aquele espancamento foi a culminação de uma vida de labuta e repressão.
A mesma coisa acontece em casos de
abuso sexual persistente. Solucionar os momentos traumáticos não produz
liberação, porque estes momentos ficam embutidos em uma massa de experiências
negativas. Nós não teremos sucesso removendo a carga traumática até que
consigamos clarear uma grande parte daquela massa e então a vitalidade emocional
será recuperada.
Diagnosticando o Hangover
Identificamos hangovers pelas cargas relacionadas na tabela acima. Frases
repetidas que contenham palavras como: "sempre", "nunca", "ninguém", “todo
mundo", são sinais de hangovers ou postulados de caráter. Supergeneralizações ou
têm origem na longa duração da experiência original, ou em uma auto-imagem ou
mundo-imagem programadas. Se seu paciente diz: "Sinto-me infeliz" e a repetição
e conclusão desta oração não levam a qualquer resultado, então experimente pedir
que ele repita: "Eu sempre me sinto infeliz". Às vezes isso produz uma regressão
para a fonte de um hangover.
Orações que contenham "eu sou" freqüentemente indicam um postulado de caráter.
Um postulado de caráter forte faz com que traumas a ele relacionados e hangovers
se repitam. Os problemas continuam voltando, não por estarem ligados a condições
imutáveis, mas porque é ativado por um programa fixo agindo nos bastidores da
mente. "Eles sempre tiram tudo de mim", "eu não tenho sorte na vida", “eu tenho
duas mãos esquerdas".
Qual a
diferença entre “eu sinto" e "eu sou?” "Eu sinto" indica que a pessoa
identifica-se com o sentimento. "Eu sempre me sinto infeliz" implica que algo o
faz infeliz. Mas "eu sempre dou espetáculos infelizes" significa que a
infelicidade se tornou uma parte do ego. A primeira oração sugere um hangover, a
segunda um postulado de caráter.
Identificação é especialmente problemática quando
um hangover é reforçado por outras pessoas. O paciente era um escravo, e os
donos dele estavam sempre gritando: "Ei seu lixo!" ou "Vem, cachorro!" Isso pode
conduzir a: "eu sou um cachorro" ou "eu não sou nada". Um hangover é uma
hipoteca no ego. Um postulado de caráter é um problema da estrutura do ego, uma
identificação com um padrão de resposta particular.
Outro
modo de identificar hangovers é observar as repercussões somáticas específicas
que aquelas frases provocam no começo de uma sessão:
-
Sensações vagas, inconstantes, desagradáveis.
-
Sentimentos de rigidez.
-
Sentimentos pesados, indefinidos.
-
Sentimentos de cansaço e esgotamento.
-
Sentimentos indefinidos de resfriamento.
-
Sentimentos de entorpecimento ou de vazio.
-
Mudanças lentas de postura.
-
Sessão se desenvolvendo com uma lentidão
exagerada.
-
Expressões faciais lentas de repulsa.
-
Paciente confuso, “enrolando”.
Tratando o Hangover
O caráter tenaz, amorfo de um hangover surge como um problema para o terapeuta.
Pacientes permanecem freqüentemente presos na vivência. O terapeuta tem que
executar um trabalho difícil, mais duro. A catarse é mais lenta. Suponha que o
paciente regrediu para uma vida em que é uma mulher escrava, abusada sexualmente
por muitos anos. Ela vai ficando menos atraente, os dentes dela vão caindo e
finalmente ela é descartada como se fosse um monte de lixo. Se você lhe diz que
atravesse isto completamente, ela reforçará a sensação de ser um monte de lixo.
Então nós nunca devemos dar aquela instrução a um paciente com um hangover.
Basta analisarmos as cargas – físicas, emocionais e intelectuais – e enviar o
paciente a situações específicas que ilustram cada carga: "Vá para o momento do
pior cansaço". Depois, "Vá para o último momento em você sentiu cansaço".
Depois, “O que você sente? Revolta? OK! Vá para o último momento em que você se
sentiu indígno”.
A visão panorâmica da vida no pós-morte é especialmente importante no tratamento
de hangovers. É essencial que seja perguntado ao paciente: "Como?" O que? Por
que?" e "Por que não?" “Então o que permanece ainda hoje?" Esta última pergunta
tira freqüentemente as cargas mais pertinentes que geralmente são: cansaço,
vitimização ou auto-piedade. O começo e a longa duração de cada carga têm que
ser entendidos, como também encontrar os momentos de escolha.
Uma pergunta essencial é, “o que impediu você de mudar sua vida?” Localize os
momentos decisivos. Se isso é difícil, então passe para a experiência de morte e
dirija-o para o "lugar de visão panorâmica" para definir esses momentos. A
catarse é improvável sem uma experiência de morte adequada. O hangover só é um
hangover quando permanece depois da morte. Isto implica que o paciente teve uma
morte incompleta. Mas se aquela vida frustrante foi livremente escolhida, a
experiência de morte traz catarse e o hangover se dissolve rapidamente.
Os passos para a liberação do hangover são os seguintes:
1. Obtenha uma impressão global do curso do
hangover como uma sucessão e combinação de situações mencionadas acima, na
primeira tabela.
2. Atravesse cada situação para anotar cargas como
desamparo, insegurança, submissão, culpabilidade, penitência, vingança, etc.
Examine separadamente os próximos quatro passos para cada carga.
3. Vá para o começo da carga. Pergunte: "o que,
precisamente, você experimentou nesse momento?" E "Como, precisamente, isso
aconteceu? É diferente se um escravo cresceu em uma família de escravos ou um
homem rico foi condenado por assassinato. Você precisa saber onde, como e por
que e curva de sujeira interna cresceu. O paciente lhe fala: "eu estou jogado
entre as cabanas, e -- Oh Deus! Mercadores de escravos estão falando de mim
como se eu fosse uma Múmia!". Assim você apreende que o agrupamento de cargas
emocionais relacionadas a escravidão contêm o sentimento de ser descartado e o
sentimento de desconfiança. O paciente pode nem mesmo confiar na sua própria
mãe.
4. Leve o paciente separadamente ao pior momento de cada carga.
Por exemplo, você relacionou frio, monotonia e cansaço "Vá para o pior momento
do frio. Atravesse completamente.
Sinta".
5. Leve o paciente ao fim de cada carga, que
freqüentemente é a morte. Então você tem um quadro total da situação: como
foi, e o que era seu impacto negativo. Mas você ainda não está fora dos
bosques. Com situações traumáticas não sempre é necessário reviver a
experiência de morte, mas com hangovers é. Também, a experiência de vida após
a morte deve ser atravessada cuidadosamente.
6. No retrospecto da vida, pergunte para o
paciente, "Quais foram os momentos de escolha que você teve?" "eu tentei
escapar, mas eles me acharam e me bateram.” Agora estamos no ponto essencial:
"Vá para o momento de escolha. Como eles o acharam? Você poderia ter feito
qualquer coisa que prevenir que... ?" As Pessoas têm freqüentemente programas
inconscientes que determinam se uma tentativa de fuga falhará ou terá
sucesso. Boa sorte e má sorte existem, mas normalmente elas dependem da
posição do imã interno para sorte. Se neste ponto o paciente tem a perspicácia
de perceber que este momento é de sua própria responsabilidade, aquele insight
é valioso como ouro. Ele percebe de repente qual decisão é a certa para
prevenir a miséria no resto de sua vida. Ele adquire o sentimento de que
aquela oportunidade nunca mais acontecerá. Ele vê o que ele não viu ou não
quis ver antes. De certo modo este é o trabalho terapêutico de concluir uma
morte incompleta.
7. Induza o paciente a checar qual carga em
particular ainda permanece com ele na vida presente.
Garrett Oppenheim leva os pacientes para o lugar
panorâmico de avaliação onde pede que eles olhem para suas vidas passadas à
direita e para a vida presente à esquerda, procurando encontrar as conexões
entre as várias vidas.
Os fatos por si só não são decisivos; o importante é como são experimentados. E
isso depende freqüentemente do motivo do paciente ter vivido aquela vida. Uma
vida de muito trabalho escolhida livremente não deixa necessariamente um
hangover porque tudo é assimilado para a direita após a morte, com exceção das
cargas somáticas.
Se o momento de escolha e/ou responsabilidade pessoal não puder ser encontrado
dentro da vida nem no retrospecto do pós-morte, busque no período anterior ao
nascimento. Um paciente pode exclamar:
"0h Deus, eu não quero
nascer!
"Esta será uma vida horrível.
"Eu não quero!”.
"Eu tenho que ir. Esse homem com aqueles olhos horríveis está me forçando"
Não fique tentado a responder:
"Ah pobre menina. Eu vou envolvê-la com luz, e
você ficará bem. Aquele homem irá embora, e você nunca mais será forçada”.
Basta que você pergunte:
"Quem é ele? e "Porque você se deixou forçar? Eu não posso
ajudá-la. Porque você
mesma não pede ajuda a ele? Por que este homem tem esse poder sobre você?”
Se a paciente responder que aceitou aquele poder ou não pôde resistir a isto por
alguma razão dirija-a para a origem daquela aceitação ou impotência. Nós sempre
podemos devolver o cliente para um momento de escolha. Compulsão é uma
característica presente em muitos hangovers; assim catarse, ou liberação,
depende de achar aquele momento de escolha.
Curiosamente, hangovers e traumas, podem ter efeitos positivos:
Uma
paciente não conseguia desfrutar a vida porque sempre via apenas o lado feio
das coisas regrediu para uma vida passada em que era uma menina judia que
morreu em Bergen-Belsen durante o último inverno na segunda guerra mundial. Na
sessão de terapia ela viu diretamente na frente de seus olhos uma folha feita
de um material transparente com a imagem impressa do campo de concentração.
"Eu vejo tudo através daquela folha" ela disse. Em sua vida atual ela cresceu
em uma família de amantes da natureza, mas sempre teve dificuldade para
desfrutar ambientes naturais bem cuidados. Durante a sessão percebeu que ela
associava árvores caídas devido a falta de cuidados com o inverno passado em
Belsen. Ela agora entende por que preferia parques e jardins bem cuidados.
Concluiu que não havia qualquer motivo para remover este aspecto do hangover.
Ela afirmou: "Agora eu posso desfrutar muito mais dos parques e jardins”.
Quando
alimentava suas crianças (no peito ou na mamadeira) ela sempre sentia “como se
houvesse ouro no leite”. Depois do aparecimento da folha transparente na
sessão, ela entendeu que estava comparando o leite morno que dava ao bebê com
o frio e a fome do campo de concentração, e então viu porque valorizava tão
profundamente a nutrição que fornecia a seus filhos. Não viu nenhuma razão
para retirar a folha de diante de seus olhos. “Todos temos o direito a nossas
próprias recordações" foi a maneira como ela se expressou. A catarse levou-a a
ter um insight que produziu um grande alívio. A vivência ruim não incorreu em
nenhum trauma pessoal porque, apesar da experiência terrível de Belsen ela
havia morrido bem.
Um Caso Demonstrativo
Veremos agora a descrição de uma sessão de demonstração com um sujeito masculino
no qual eu usei uma técnica de ponte verbal para descobrir vidas de hangovers:
Sujeito :Deixe-me
em paz. Eu tenho que fazer isto sozinho (seu postulado).
Terapeuta: Feche
seus olhos e concentre-se naquele sentimento. Você pode evocar aquele
sentimento de solidão e permanecer em paz? (Pedindo uma carga emocional).
Sujeito: Sim.
Terapeuta: Como se
sente?
Sujeito: Que eu
quero manter as pessoas à distância, porque elas querem me tocar.
Terapeuta: Onde as
pessoas querem tocá-lo? Tente sentir isto em seu corpo. (Pedindo carga
somática).
Sujeito: Em algum
lugar ao redor do coração. Eles querem tocar meu sentimento.
Terapeuta: Como
você sente em seu corpo o desejo de mantê-los à distância?
Sujeito: Como se eu
os empurrasse para longe de mim.
Terapeuta: Você
ainda tem aquele sentimento?
Sujeito: Sim.
Terapeuta: Então
vamos regredir para a situação em que você tem a impressão de que este
sentimento começou. Eu vou contar para trás e você entra em uma situação onde
as pessoas querem tocar seu sentimento e você tem a tendência de empurrá-los.
Você desejou permanecer em paz. Vamos regredir para a fonte daquele
sentimento. Eu conto de 5 a 1, e você entra em contato com isto: 5-4-3-2-1.
Você quer permanecer em paz. Onde você está, e o que acontece?
Sujeito: Minha
primeira impressão é de que eu trabalho como curador em um templo egípcio.
Terapêuta: Como as
pessoas puxam você? O que eles querem de você?
Sujeito: Eles
querem que eu os liberte de suas doenças sem ter de se encarar. (Eles poderiam
ter sido os pacientes de um terapeuta de regressão!)
Terapêuta: Por que
isso o aborrece?
Sujeito: Retirar as
doenças deles, aliviar suas dores, me faz perder energia e minha paz. Há
tantos deles! (Implica cansaço).
Terapêuta: O que
aconteceria se você tentasse diminuir esta perda de energia? (Olhar para
momento de escolha.)
Sujeito: Eu tenho a
impressão que eu não tentei. Isto veio crescendo lentamente.
Terapêuta: O número
de pacientes aumentou lentamente. Você não tentou minorar isto, e sua paz se
foi. Volte para o momento que você decidiu fazer este trabalho. Experimente o
que você pensou e fez. Onde você está e o que acontece?
Sujeito: Tenho a
impressão de estar sentado no deck dianteiro de um navio e decido fazer algo
sobre curar.
Terapêuta: O que
acontece enquanto você toma esta decisão? O que você sente?
Sujeito: Pena.
Terapêuta: Agora
você vai para o primeiro momento em que ajuda alguém, e você sente o que
acontece dentro de você. Onde você está e o que está fazendo?
Sujeito: Uma mesa
de pedra com pessoas em torno dela. Alguém está mentindo. Agora me permito
magnetizar. Sinto meu coração se abrir. (Localização da carga somática).
Terapêuta: Abandone
isto e volte para o momento em que você sentiu conscientemente pela primeira
vez, "eu desejo que eles me deixem em paz. Eu quero permanecer só". Vai para
aquela situação, descreva o que acontece e o que se passa com você.
Sujeito: Um
companheiro adoece. Agora ficarei muito ocupado com isto.
Terapêuta: Como
isso aconteceu?
Sujeito: Eu me
esforcei demais; transferi muita energia.
Terapêuta: Vá para
uma situação que mostre as conseqüências.
Sujeito: Eu posso
ficar longe deles e me recolher para dentro de mim sem falar sobre isto.
Terapêuta: E qual é
o resultado disso?
Sujeito: Solidão.
(Nova carga emocional).
Terapêuta: Qual é o
resultado desta solidão?
Sujeito: Eu sinto
frio. (Nova carga somática).
Terapêuta: Onde
você sente que este frio está mais forte? No seu coração, também?
Sujeito: Sim.
Terapêuta: Vá para
o momento da morte. Como você morre? O que você experimenta?
Sujeito: Solidão -
e um sentimento de rancor. (Nova carga emocional).
Terapêuta: Rancor
contra quem ou o que?
Sujeito: Contra
todas aquelas pessoas
Terapeuta: Seus
companheiros ou seus pacientes?
Sujeito: Ambos.
Terapêuta: Agora
você vai para um lugar panorâmico de avaliação. Quando você estiver lá diga
Sim.
Sujeito: Sim.
Terapeuta: Agora vá
ao momento naquela vida em que você poderia ter tomado a decisão de evitar
tudo isto. Quando você estiver lá, veja o que aconteceu e que decisão você
poderia ter tomado. Deixe isto atravessar você e entenda por que não tomou
aquela decisão. (Procurando novamente o momento de escolha).
Sujeito: Eu tentei
explicar algo às pessoas com quem eu trabalhava. Mas eu não consegui fazer
isto direito.
Terapêuta: Por que
não?
Sujeito: Não
consegui comunicar isto a eles corretamente. Eu deixei as coisas muito vagas.
Eu poderia ter sabido que sairiam coisas de minhas mãos, mas eu não fiz nada
conscientemente sobre isto.
Terapêuta: Por que
não? O que o impediu?
Sujeito: Eu tenho
medo de responsabilidade. Eu não posso controlar este medo. (nova Carga).
Terapêuta: Aquele
medo veio de algum lugar. Vá para lá agora (localizando o momento em que o
problema apareceu). E você terá uma percepção da fonte do medo e você será
capaz de controlar isto. O que entra em você?
Sujeito: Ah! Aquele
desastre na Atlântida. (Sorri amplamente e relaxa. Já tivera uma regressão
sobre isto antes. Agora ele entende a conexão: Acontece uma pequena catarse).
Terapêuta: Você tem
uma imagem disto com você?
Sujeito: Sim.
Terapêuta: Mantenha
esta imagem perto de você, como a primeira página de um livro que você pode
abrir agora. Atravesse aquele medo que lhe frustrou e impediu que você
conseguisse transferir a energia de modo adequado. Você na verdade sempre quis
ser auto-suficiente porque você tem medo de delegar poder. O resultado foi:
"Eu quero permanecer em paz". Você achou a paz?
Sujeito: Não, mas
eu sei o que é paz agora. Aquele medo não é tão grande quanto era. Nem tão
negativo.
Terapêuta: "Eu
quero permanecer em paz " ainda o faz sentir alguma coisa? (Conferindo carga).
Sujeito: Eu não
sinto mais isto agora.
Terapêuta: O que
você sente agora?
Sujeito: Paz (Esta
sempre é uma palavra ambivalente; significa só uma catarse parcial. Uma
verdadeira catarse dá alegria!).
Terapêuta: Então
volte para o aqui e o agora de seu próprio jeito,e em seu tempo.
Considerando-se que esta era uma demonstração com tempo limitado, eu apenas
explorei as emoções. Ainda havia alguma catarse a ser feita – um insight. O
paciente começou a rir "daquele desastre". Então ele adquiriu algo fora do seu
tórax: entendeu que o medo daquela experiência em Atalândida o impediu de
delegar deveres aos seus assistentes. O vínculo entre "eu quero permanecer em
paz" e "eu estou só" estava claro, também. De fato, este personagem mau sempre
estava só. Esta era a atitude dele. Ele poderia ter ajudado aquele fluxo de
pessoas, mas ele não conseguiu direcionar toda a energia. Mas era nenhuma
impotência verdadeira.
Essas pessoas não olharam para elas mesmas, ou ele
não se olhou. O que ele não pôde conferir em outros era a capacidade de se doar
a outras pessoas e só isto seria suficiente. Mas isto o deixava com um frio no
coração. O esvasiava. Mas na verdade, ele estava pedindo isto. Ele tornou-se
mais digno e mais cansado.
Uma vida de hangover é criada como o estalido de um
interruptor. Parece uma nuvem cinza que surge repentinamente. dAo causa aqui era
um postulado de caráter. Ele não era uma vítima das circunstâncias, mas de seu
próprio programa. O resultado era cansaço.
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N.T. - A palavra Hangover pode ser traduzida para o português como
“ressaca”, “sobra” ou “saia suja”.
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Eu gostei muito deste texto, e tomei conhecimento por conta de um grupo que participo e como sei que pode ajudar muita gente, estou postandos aqui.
__/♡\__ Agradecida pela presença em nosso blog e, que todos os seres sencientes possam se beneficiar. Saudações Numinosas!
Ɲαɱαsɫê Ʒɔ̐
Norma Lúcia Villares
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